Ano 7, nº 14, 2008 Julho/Dezembro de 2008 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
A observação
de aves como atividade sustentável e seu potencial
Alessandro Allegretti*
Ivan de Oliveira Pires **
* Mestrando da Pós-Graduação
Fluminense (UFF) ( memoryjra@yahoo.com.br )
** Prof. Dr. em Geografia pela USP, atual coordenador do PGCA-UFF (ivan@vm.uff.br )
RESUMO
Este artigo pretende analisar a atividade de observação de aves e sua relação com sustentabilidade. A natureza pode ser considerada de modo a não ter desenvolvimento e sociedade sustentável como itens opostos. Ele versa também sobre de que forma podemos conhecer diferentes facetas do Rio de Janeiro.
Palavras-chaves: observação de aves, desenvolvimento, Rio de Janeiro
ABSTRACT
This article intends to analyze the activity of birdwatching and its relationship with sustentable development. It shows that nature can be viewed in a way that development and sustentable society aren't against each other. It shows also that birwatching is a way to know differents aspects of Rio de Janeiro.
Key-words: birdwatching, development, Rio de Janeiro.
Introdução
A observação de aves ou birdwatching é uma atividade muito praticada no exterior, principalmente na Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália.
Estima-se que haja aproximadamente oitenta milhões de pessoas em todo o mundo dedicadas a observar aves (foto I). Trata-se de um mercado lucrativo em expansão que movimenta grandes cifras com a venda de pacotes de viagem, binóculos, lunetas, guias de campo, máquinas fotográficas, gravadores, vestuário e outros equipamentos para a prática.
A atividade teve início no século XVIII com aristocracia inglesa que costumava passear pelas suas propriedades para admirar aves e ganhou impulso no final daquele século com a publicação de um livro sobre as aves locais. No ano de 1800, os norte-americanos costumavam se reunir em clubes para observar aves.
Há dois tipos de observadores de aves. O primeiro é o dos caseiros que gostam de observar as aves das janelas de suas casas e de seus jardins, pousadas nos bebedouros, comedouros instalados e árvores frutíferas. O segundo é o dos que viajam constantemente e se equipam muito bem para a prática. Esta última categoria pode se embrenhar nas florestas ou caminhar por banhados durante horas em países longínquos para apreciar de perto os animais na natureza.
Calcula-se que milhões de pessoas viajem pelo mundo, principalmente para países tropicais, para observar as aves em seus ambientes naturais. Para estas pessoas, o que importa é ver e anotar o maior número de espécies de aves em suas cadernetas de campo e se possível gravar as vocalizações delas e descrever suas características físicas e comportamentais.
Segundo o boletim de 2007 do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), o Brasil possui 1.801 espécies de aves. É um número que equivale a um quinto de aproximadamente 9.700 espécies registradas no mundo.
Paraíso dos observadores de aves, nosso país conta com diversos ecossistemas ricos em espécies como a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica e o Cerrado. Nos dois destinos brasileiros conhecidos internacionalmente pelos observadores de aves que são o Pantanal Mato-Grosso e a Amazônia, já foram catalogadas, respectivamente, 650 e 700 espécies.
Devido ao pouco interesse do povo brasileiro pela atividade, somente nos últimos dez anos é que começaram a surgir livros identificadores de espécies (guias de campo) e reuniões nacionais, com maior freqüência. O único guia de campo especializado em observação de aves no Rio de Janeiro foi publicado em 1992, havendo mais dois no prelo com previsão de lançamento para 2008.
A atividade se bem planejada nas Unidades de Conservação poderá gerar renda para a população do entorno e auxiliar na preservação ambiental.
Os objetivos deste artigo são:
a) Demonstrar o exemplo bem sucedido de uma ONG que através da observação de aves, consegue conciliar geração de renda com conservação ambiental e promover a inclusão social da população local;
b) Sugerir como o turismo de observação de aves pode ser implantado e duas Unidades de
Conservação (UCs) do município do Rio de Janeiro.
Material e métodos
Foi realizado o levantamento bibliográfico sobre a observação de aves no mundo e no Brasil.
Realizaram-se visitas a Reserva de Guapiaçu (REGUA), que é um exemplo de êxito no birdwatching, e a duas Unidades de Conservação municipais do Rio de Janeiro: o Parque Ecológico Municipal Chico Mendes e o Parque Municipal de Marapendi, em que a atividade de turismo de observação de aves possui potencial para ser implantada.
Resultados
A Reserva de Guapiaçu
(REGUA) – um exemplo de sucesso
A REGUA
pertence a uma ONG com o mesmo nome. Está situada em uma fazenda no município
de Cachoeiras de Macacu e tem
Já foram registradas 438 espécies de aves no local.
A REGUA promove o reflorestamento com espécies nativas, conecta fragmentos florestais, emprega nativos da região para trabalhar na fiscalização florestal, planeja e executa projetos de reintrodução de duas espécies nativas ameaçadas de extinção (mutum-do-sudeste e jacutinga), emprega um veterinário para inventariar a fauna da reserva e um ex-caçador como guia de observadores de aves. Também realiza projetos de educação ambiental com as escolas próximas. A reserva atrai os turistas através de propaganda na internet e está associada a uma empresa estrangeira especializada em promover o ecoturismo com a observação de aves. A ONG emprega sete fiscais florestais que eram ex-caçadores na região.
A reserva recebe cerca de oitocentos visitantes anualmente, a maioria turistas estrangeiros, que se hospedam em uma pousada na fazenda. Também há vários alojamentos para pesquisadores.
Há uma torre de observação construída na beira de banhado artificial que atrai grande variedade de espécies de aves aquáticas.
O Parque Ecológico Municipal
Chico Mendes
Possui
O Parque Municipal Ecológico de Marapendi
Situado em
área marginal à Lagoa de Marapendi, no bairro do
Recreio dos Bandeirantes, está em área de restinga e com presença de manguezal
(foto IV). Tem cerca de
Sugestões para implantar o turismo de
observação de aves nos dois parques municipais
O exemplo da REGUA pode ser utilizado em relação aos dois parques municipais.
Para isto é necessário que o órgão público gestor do parque, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SMAC), realize um acordo de cooperação técnica com o Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro (COA-RJ) que concentra um público especializado no assunto.
O COA-RJ, existente desde 1985, congrega aproximadamente sessenta sócios de diversas profissões que se reúnem mensalmente e organizam excursões para observar aves em diversos pontos do Estado do Rio de Janeiro.
No Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), desde 2004, integrantes do COA se reúnem mensalmente e utilizam binóculos emprestados pela Associação dos Amigos do Jardim Botânico. O evento já faz parte do calendário das atividades mensais do JBRJ.
As medidas necessárias para o incentivo ao turismo de observação de aves são: o levantamento das espécies locais, a colocação de cartazes indicando quais espécies o visitante encontrará com mais facilidade, a confecção de material audiovisual com filmes, fotos e gravações das vocalizações da avifauna, a montagem de torres de observação em pontos estratégicos, a aquisição de binóculos para serem emprestados aos visitantes, o plantio de frutíferas nativas que atraiam as aves e o treinamento de funcionários e moradores da vizinhança para servirem de monitores de observadores de aves.
Nos parques municipais, atualmente, o que existe e pode ser aproveitado para a atividade são os levantamentos realizados da avifauna.
O Parque Ecológico Chico Mendes possui uma infra-estrutura adequada para a atividade, pelas trilhas em bom estado de conservação, presença de uma torre de observação, listagem da avifauna e um número razoável de servidores para apoio.
O treinamento para a formação de monitores especializados envolve o conhecimento dos nomes científico, popular e em inglês, conhecimento do canto, da forma e do comportamento para a identificação da espécie. A vivência de campo é imprescindível para o bom exercício da atividade de guia.
Conclusão
O turismo de observação de aves está em expansão no mundo. Tal atividade muito difundida no exterior, comparativamente, é pequena em nosso país. O Brasil e o município do Rio de Janeiro têm grande potencial para desenvolvê-la devido a sua biodiversidade.
Por ser uma atividade geradora de renda, não causadora de impacto ambiental, com possibilidade de promover da inclusão social, divulgadora das nossas riquezas naturais, de caráter conservacionista e permitida nas unidades de conservação, deveria ser incentivada pelas secretarias de meio ambiente e turismo do município do Rio de Janeiro.
Vontade política do governo municipal para realizar um convênio de cooperação com entidades especializadas e a execução das medidas descritas anteriormente serão um grande passo para o incremento da atividade nos parques Chico Mendes, que possuem enorme potencial devido a sua alta biodiversidade.
A montagem e execução de um plano para o cumprimento das várias propostas sugeridas no decorrer do artigo, poderão incluir os dois parques numa lista de bons lugares para observar aves, a exemplo do Parque Nacional de Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro.
O morador das vizinhanças da Unidade de Conservação (UC), que tiver como fonte de renda o trabalho de monitor de observador de aves, irá proteger o ambiente porque no fundo estará protegendo o seu emprego.
A presente
pesquisa é uma análise inicial da atividade turística de observar aves. As
sugestões apresentadas para serem implantadas nos parques deverão ser discutidas pelo órgão ambiental gestor e pela sociedade
organizada.
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