Eu, Helio de Araujo Evangelista, recebi no dia 24 de agosto de 1999 um diagnóstico de que tinha um tumor maligno colado à parede do abdômen com o tamanho de 16 cm x 11 cm. Um verdadeiro feto cancerígeno!

 

Fico a imaginar uma mulher grávida. Um feto que tenha lá tamanho semelhante ao que tive. Qual a diferença entre as duas realidades ? 

 

No fundo são células, um conjunto de células!

 

Que mais?

 

Há uma diferença radical entre os dois casos, a saber, no caso da mulher grávida a sua realidade é dado por uma evolução que ao fim e ao cabo remonta à singular união entre o espermatozóide e o óvulo, a partir daquele momento nós temos um ovo, uma única célula que se desdobra e deste processo surgirá a mente, os braços, os pés ... Todas as principais características que a pessoa venha a apresentar no seu futuro já estão registradas naquela primeira célula.

 

Na situação por mim vivida não houve isso. A proliferação das células visava matar-me. E para enfrentar o desafio passei por um pesado tratamento quimioterápico.

 

A questão que envolve a discussão sobre a utilização de células embrionárias para fins científicos apresenta aqueles que entendem que no corpo da mulher, pelo menos em alguma fase, temos uma proliferação de células que nos lembra um tecido cancerígeno, no entanto, não é isto que ocorre, desde o primeiro momento da concepção temos a formação gradativa e real de um ser humano!

 

Então por que matar um ser humano em nome de outro?

 

Segue abaixo uma carta infelizmente não publicada no jornal. Aliás, como a imprensa, e a própria mídia televisiva tem sido tão parcial nas discussões! Apresentam os estudos de células embrionárias como a maior das soluções, e, no entanto, como teremos oportunidade, não é nada disto que se procura divulgar.

 

O editorial do jornal Valor Econômico do dia 5/3/08 à p. A 18 não me pareceu feliz. Esta discussão sobre célula-tronco embrionária me fez lembrar a decisão da Corte de Nuremberg diante das experiências realizadas pelos nazistas. Se aquela corte utilizasse à época o mesmo parâmetro utilitarista que se usa hoje para defender a manipulação de embrião humano, a corte poderia alegar que já que as pessoas encontravam-se mortas não haveria porque deixar de usar o que tinha sido descoberta pelos nazistas. Parece necessário que a ética acompanhe a evolução cientifica. Não se trata de religião caro redator, mas de ética.

 

Comentário: alega-se a aprovação da experiência com célula embrionária porque esta não sendo utilizada está destinada ao lixo. Ora, por que temos células embrionárias humanas congeladas? Estamos assistindo a um processo de manipulação genética do ser humano que é sempre aplaudido como algo positivo. No caso das células embrionárias humanas congeladas, nós tivemos a situação criada em nome da infertilidade de casais. “Tenha seu próprio filho”. O incentivo à adoção poderia ser incrementado, porém, não proporciona uma atividade lucrativa!!!

Agora, como há a situação de embriões em excesso, o que fazer deles?

Vamos utilizá-los para fins terapêuticos. Ninguém gostaria de estar em tal situação após a concepção.

Numa elucidativa entrevista de Mario Capecchi, Nobel de Medicina, além de defender a pesquisa com pesquisa embrionária ele trás a seguinte pérola:

(...)A clonagem humana, por exemplo, seria terrível. Não apoiaria isso agora, mas consigo imaginar uma situação em que grande parcela da população se tornasse estéril e não pudesse ter filhos a não ser por clonagem. É preciso manter a mente aberta. (Valor Econômico à p. A8 de 2/6/2008).

Fora, a observação de qualquer resultado prático com células embrionárias ocorrer só daqui há dez ou mais anos. Parece que tal informação não foi destacada aos que atuaram em favor da medida.

Obs.: o referido acima é italiano, país onde não foi autorizada experiência com célula embrionária humana, como frisa a reportagem.

 

 

Primeiro texto

VIDA: o primeiro direito da cidadania

Vs. Autores

2005

(Trechos escolhidos)

 

1.      O que é embrião humano?

Dr. Dernival da Silva Brandão

O embrião é o ser humano na fase inicial de sua vida. É um ser humano em virtude de sua constituição genética específica própria e de ser gerado por uma casal humano através de gametas humanos – espermatozóide e óvulo. Compreende a fase de desenvolvimento que vai desde a concepção, com a formação do zigoto na união dos gametas até completar a oitava semana de vida. Desde o primeiro momento de sua existência esse novo ser já tem determinadas as suas características pessoais fundamentais como sexo, grupo sanguíneo, cor da pele e dos olhos, etc. É o agente do seu próprio desenvolvimento, coordenado de acordo com o seu próprio código genético.

 

O cientista Jérôme Lejeune, professor da universidade de René Descartes, em Paris, que dedicou toda a sua vida ao estudo da genética fundamental, descobridor da Sindrome de Dawn (mongolismo), nos diz: “Não quero repetir o óbvio, mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 cromossomos da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato”.

 

A ciência demonstra insofismavelmente – com os recursos mais modernos – que o ser humano, recém-fecundado, tem já o seu próprio patrimônio genético e o seu próprio sistema imunológico diferente da mãe. É o mesmo ser humano – e não outro – que depois se converterá em bebê, criança, jovem, adulto e ancião. O processo vai-se desenvolvendo suavemente, sem saltos, sem nenhuma mudança qualitativa. Não é cientificamente admissível que o produto da fecundação seja nos primeiros momentos somente uma “matéria germinante”. Aceitar, portanto, que depois da fecundação existe uma novo ser humano, independente, não é uma hipótese metafísica, mas uma evidência experimental. Nunca se poderá falar de embrião como de uma “pessoa em potencial” que está em processo de personalização e que nas primeiras semanas pode ser abortada. Por quê? Poderíamos perguntar-nos: em que momento, em que dia, em que semana começa a ter a qualidade de um ser humano? Hoje não é; amanhã já é. Isto, obviamente, é cientificamente absurdo.

 

2.      O embrião ou o feto humano pode ser sacrificado para beneficiar um outro ser humano?

Dr. Dernival da Silva Brandão

Não. O embrião ou feto, como ser humano tem uma dignidade própria inviolável e inalienável. É um ser humano completo em qualquer fase do desenvolvimento em que se encontra, no sentido de que nada mais de essencial à sua constituição lhe é acrescentado após a concepção. Necessita de alimento e oxigênio, como de resto todos nós necessitamos para sobreviver e desenvolver. Sua vida deve ser respeitada e protegida de modo absoluto desde o seu início. Desde a concepção até a senectude é o mesmo ser, com a mesma identidade ontológica, com a mesma dignidade humana. A ciência e a técnica devem sempre ser colocadas a serviço do ser humano. Essa é a finalidade da Ética, do Direito, da Medicina ou qualquer outro ramo do saber humano que lida com o ser humano. Todos somos guardiões da vida humana. O sacrifício de um ser humano inocente é antiético e injusto.

 

3.      Que são células-tronco? Qual a diferença entre células-tronco embrionárias e as células-tronco adultas? Para que servem ?

Dra. Alice Teixeira Fereira:

 

As células tronco embrionárias são aquelas provenientes da massa celular interna do embrião (blastocisto). São chamadas de células-tronco embrionárias humanas porque provêm do embrião e porque são as células-mães do ser humano. Para se usar estas células, que constituem a massa interna do blastocisto, é destruído o embrião.

 

As células tronco adultas são aquelas encontradas em todos os órgãos e em maior quantidade na medula óssea (tutano do osso) e no cordão umbilical-placenta. No tutano dos ossos tem-se a produção de milhões de células por dia, que substituem as que morrem diariamente no sangue.

 

4.      Por que se diz que é inaceitável a manipulação das células-tronco embrionárias humanas, enquanto se aceita o uso das células-tronco adultas? Qual o resultado do uso de células-tronco adultas?

Dra. Claudia Maria de Castro Batista:

 

Retornei recentemente ao Brasil após dois anos de trabalho junto a um renomado grupo de pesquisa em células-tronco no Canadá. Ao chegar, deparei-me com um clima de euforia incomum em relação às promessas atribuídas às células-tronco embrionárias. Deu-me profunda pena assistir ao noticiário e constatar que inúmeras famílias e deficientes físicos (presentes na Câmara durante a votação da Lei de Biossegurança) estão mergulhados e iludidos com o euforismo sem fundamento e sem base científica que justifique o uso de células-tronco embrionárias humanas. Como uma das pouquíssimas pesquisadoras que estudam o potencial de células-tronco no tratamento de doenças neurodegenerativas no Brasil, acredito fortemente no potencial de células-tronco maduras, tendo obtido evidências de que estas células são, de fato, as mais promissoras, as únicas até hoje empregadas em terapias já em fase clínica. As células-tronco derivadas do embrião, até hoje, geraram tumores e são rejeitadas pelo organismo transplantado. O lobby, feito por um pequeno grupo, confunde claramente as pessoas leigas no assunto, isto é, a grande maioria presente durante a votação em plenário. Basta citar a frase de alguém que afirmou: “Já sabemos que a utilização em pacientes auto-imunes de células-tronco adultas retiradas do sangue do cordão umbelical dos bebês não têm uma resposta tão boa”. De onde saiu esta conclusão? Todas as terapias testadas no Brasil e no mundo até hoje foram feitas apenas com células maduras e só estas alcançaram resultados promissores! Certamente os conceitos se embaralham e geram slogans do tipo “Projeto salvador de vidas”.

Até hoje, quais vidas?

 

Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira:

 

O uso de células-tronco adultas não traz objeção ética ou científica. Não se verificou prejuízo para o doente que as recebe. Tem acentuadas possibilidades de bons resultados, além de menor possibilidade de rejeição. Também, não prejudica o doador, seja ele o próprio paciente, outra pessoa, ou seja, o sangue do cordão umbilical que é “jogado fora” se não for colhido com finalidade diagnóstica ou terapêutica. Entretanto, para uso das células-tronco embrionárias, o embrião é destruído. Mesmo sob o ponto de vista apenas biológico, sem discutir se o embrião merece ser chamado “pessoa”, este fato faz diferença. No primeiro caso temos tido resultados positivos temos tido resultados positivos e ninguém é prejudicado. No segundo caso, cada vez, é destruída uma novidade biológica, única na espécie. Nunca será possível “criar” outra igual. E, sem dúvida, para uso de células-tronco embrionárias, é destruída uma vida humana, que deixa de existir, não por morte natural, mas para ser dissecada, em tentativas e erros dos quais não se pode prever os resultados.

 

O uso das células-tronco adultas já se tem alcançado resultados comprovados de melhor ou cura de doenças em seres humanos. Exemplos: uso para regenerar células lesadas no coração, como no caso de enfarte; para melhora de lesões da medula nervosa na paraplegia ou tetraplegia; para cura de doenças degenerativas cerebrais, como na doença de Alzheimer ou Parkinson; para implante nas mamas, em substituição às próteses atuais; em diversos tipos de transplantes, como para a cura de leucemia; para originar dentes naturais ou retrocesso da calvície; para formar pele a ser usada em casos de queimaduras e outras plásticas; para cura da diabete, etc. Foi publicada a notícia recente de obtenção de células-tronco pela coleta de pequenas amostras do tecido cardíaco do próprio paciente (15 miligramas), por meio de cateterismo. Dessa amostra foram extraídas células-tronco que, multiplicadas em laboratório, foram reimplantadas no paciente, regenerando o músculo cardíaco, sem risco de rejeição. Antes haviam sido usadas células-tronco colhidas da medula. Pacientes têm saído da fila de espera para transplantes, graças à células-tronco adultas. Isto prova a Ciência e o bem da humanidade não serão bloqueados pela proibição do uso de células-tronco embrionárias.

 

Segundo texto

Células-tronco embrionárias: quem são vocês ?

 

O biólogo americano Francis S. Collins é  um dos cientistas mais respeitados da atualidade. É diretor do Projeto Genoma Humano e trabalha no que há de mais moderno em torno do estudo do DNA, o código da vida. Até os seus 27 anos era um ateu convicto, e foi cursando uma faculdade de Medicina e testemunhando o verdadeiro poder da religião nos pacientes que ele examinava nas enfermarias do hospital-escola que a sua visão começou a mudar.

 

São suas as seguintes palavras: “Não existe um antagonismo entre as visões científica e espiritual do mundo? (...) Não para mim. Muito pelo contrário. Para mim a experiência de mapear a seqüencia do genoma humano e descobrir o mais notável de todos os textos foi, ao mesmo tempo, uma realização científica excepcionalmente bela e um momento de veneração”.

 

Essas palavras coincidem no seu sentido religioso com as do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, pronunciadas na Casa Branca, transmitidas via satélite a várias partes do mundo, quando no primeiro semestre do novo milênio ele anunciava a conclusão do primeiro rascunho do genoma humano.

 

Sem dúvida, trata-se do mapa mais importante e mais extraordinário já produzido pela humanidade. Hoje estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Ficamos mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus”.

 

Um cientista, líder do Projeto Genoma Humano em todo mundo, e um ex-presidente americano teriam sido guiados pela Igreja Católica para usarem expressões tão significativas como veneração e dádiva divina, para referirem-se ao texto constitucional do ser humano que tem 3 bilhões de letras?

 

Seria absurdo além levantar esta hipótese para desacreditá-los, mas o que se pode extrair das suas afirmações é que eles intuíram que está presente em cada célula do organismo humano não só uma maravilha biológica – a enorme seqüencia de letras contidas num espaço celular tão minúsculo -, mas acreditaram na presença de alguém que é digno de veneração, de respeito, de reconhecimento; intuíram a existência de um dom que não pertence absolutamente a ninguém, mas que é uma dádiva de Deus.

 

As células humanas têm desde a sua matriz inicial- o zigoto ou ovo fecundado – um processo constitucional e organizativo. São verdadeiras “fábricas” de substâncias nutritivas e energéticas; elas se diferenciam e se especializam: elas se dirigem espacial e funcionalmente para diversas zonas do corpo humano, onde atingirão sua maturidade biológica e fisiológica, e em todos os momentos desses processos quem está presente é uma pessoa, é um você que se posiciona diante de um eu e de um nós.

 

Ao se estudar as células-tronco embrionárias só sob uma perspectiva biológica, os resultados alcançados serão, sem dúvida nenhuma, úteis e verdadeiros, mas só dentro desse ângulo considerado. É o que vai se divulgando com o estilo próprio do jornalismo, na mídia brasileira, com uma série de informações aos leitores que vão alimentando esperanças e acelerando os debates sobre um tema tão atual.

 

A divulgação desses dados científicos sobre células-tronco humanas, em particular, sobre as células-tronco embrionárias tem se mostrado tão polêmica que se faz necessário um esclarecimento científico e ético mais objetivo. Não é suficiente o “marketing” das pessoas a favor das pesquisas e da utilização terapêutica dessas células embrionárias.

 

É preciso saber que, em primeiro lugar, o desenvolvimento de um corpo humano inicia-se com a fecundação e segue adiante com uma trajetória contínua de diferenciação e crescimento; cada etapa desse itinerário biológico é reconhecida por uma morfologia e por funções distintas do anterior nível gestacional.

 

Sabe-se que a primeira divisão celular ocorre em torno de 30 horas depois da fecundação, que a formação dos blastócitos, de onde se retiram as células-tronco embrionárias, se dá no 5º dia aproximadamente, que a implantação do embrião no útero ocorre em torno do 6º -  7º dia, que a circulação sangüínea útero-plancentária inicia-se perto do 13º dia, e que até o próprio fenômeno do nascimento (9º mês) e outros fenômenos biológicos próprios dessa idade gestacional, tudo se desenvolve ininterruptamente segundo o programa inscrito nesse texto fundamental da vida, que é o genoma.

 

É preciso saber também em que momento dessa trajetória as células do embrião em desenvolvimento merecem ser chamadas de você, como costuma acontecer quando a mãe e o pai vêem o seu filho através da uma ultra-sonografia?

 

Quando se emprega esse pronome de tratamento, o que fica evidente é uma intimidade entre iguais, ou seja, um relacionamento entre pessoas humanas, idênticas entre si na dignidade e incomparáveis no valor das suas vidas. Ainda que esse pronome pessoal tenha adquirido conotações novas em tempos recentes e seja utilizado pelos filhos, pelos netos, pelos sobrinhos, entre outros, ao se dirigirem aos seus pais, aos seus avós, aos seus tios. Nem por isso a informalidade do tratamento faz perder a consciência do respeito devido a essas pessoas mais velhas.

 

Acontece que a divulgação jornalística do tema células-tronco embrionárias, empregando só termos biologicamente adequados, como por exemplo, fazer pesquisas com essas células para fins terapêuticos, promoter sucesso garantido para as doenças cardíacas, metabólicas, degenerativas, para lesões musculares e nervosas, até agora irreversíveis, foi introduzindo na cultura dos jovens e dos adultos uma certa limitação intelectual: só se vê o lado da Ciência e não o lado da consciência, do certo e do errado, do bem e do mal.

 

Ainda que tal informação e todo debate feito só à nível terapêutico amplie a inteligência humana com os conhecimentos científicos de última geração e introduza na linguagem cotidiana palavras especializadas – totipotentes, pluripotentes, multipotentes, medicina regenerativa, clonagem terapêutica, entre outras ... - , isto não está contribuindo para um maior esclarecimento e um aprofundamento necessário a favor de quem se está falando, de quem está sendo pesquisado e usado como remédio de última geração.

 

Se os juristas, os médicos, os biólogos, os políticos, os jornalistas estiverem falando do ponto de vista experimental – cientifico, então quem os ouve ou os lê interpretarão suas palavras como reveladoras de conhecimentos limitados a uma perspectiva – a da Ciência – que parte só do que é experimental e comprovado por intrumentais técnicos. E o que é invisível, e o que é humano propriamente dito?

 

Agora, se as mesmas pessoas estiverem falando de pessoas humanas nas diversas etapas do seu desenvolvimento físico-corporal. Então, estarão falando de seus iguais, e a palavra você merecerá um destaque especial, pois as células não são apêndices, mas sim são a própria pessoa que se faz visível e ocupa um espaço, e mostra ao longo do tempo da sua existência uma morfologia específica, conforme o estágio do seu desenvolvimento, e tem uma excelência e uma dignidade não mensuráveis em laboratórios farmacêuticos e em centros de pesquisa.

 

As células do corpo humano, sejam no momento inicial – zigoto, sejam no momento final – morte – não só obedecem a um plano prescrito no genoma presente em cada uma delas, mas representam quem está sendo construído pelos seus gens e pelo entorno em que se desenvolve quem está morrendo num leito de UTI, numa enfermaria ou na sua casa.

 

A pessoa humana é quem protagoniza os momentos vitais do seu desenvolvimento biológico; é um eu único e unitário, original e biográfico, corporal e espiritual, em todos os instantes e formatos da sua existência.

 

Ela não é menos pessoa quando tem 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, etc, células em comparação aos milhares, aos milhões de células presentes no seu corpo adulto, mas é a mesma pessoa,  com o mesmo espírito corporalizado ou com o mesmo corpo espiritualizado, e, portanto, é merecedora de um tratamento pessoal, onde os pronomes eu, tu, nós, vós podem ser utilizados na linguagem mais coloquial, mas nem por isso menos respeitosa, como você e eu ou vocês e nós.

 

Quem estuda e intervêm sobre as pessoas que estão na etapa embrionária – mesmo que se tenha finalidade terapêutica futura marcada pelo sucesso – pesquisando a totipotencialidade das suas células capazes de formar os 250 tipos celulares diferentes do organismo adulto, deve trabalhar com a consciência ética para venerar, assim, com o máximo respeito, à dignidade humana, e para defender sempre o direito à inviolabilidade da vida dessas mesmas pessoas, conscientizando-se de que está vivendo relações interpessoais singularíssimas: pesquisador e pesquisado, eu e você, médico e paciente.

 

A Igreja Católica sempre defendeu que o fruto da geração humana, desde o primeiro momento da sua existência, é uma pessoa – é um você, um outro indivíduo – e a ela se deve o mesmo respeito incondicional que se tem diante de uma pessoa adulta, pois em qualquer estágio do seu desenvolvimento físico há uma totalidade pessoal e uma unidade corporal e espiritual.

 

A partir do seu momento constitucional – a fecundação – devem ser, portanto, reconhecidos os direitos primários de qualquer pessoa humana e de qualquer cidadão brasileiro, principalmente o direito inviolável de todo ser humano inocente à vida íntegra, à vida saudável e à vida em comunidade, onde se valorizem os laços familiares e sociais: “você é um filho”, “você é um parente”, “você é igual a todos nós”, e não um aglomerado de células produzidas ou congeladas num laboratório”.

 

A Campanha da Fraternidade, proposta pelo CNBB para a Quaresma de 2008, continuará sendo vivida ao longo do tempo, não porque estará agora na sua etapa de avaliação paroquiana, diocesana e regional mas, principalmente, porque se intensificarão as iniciativas e as atividades eclesiais que irão destacar os reconhecimentos da pessoa humana em plenitude e o seu direito fundamental à vida, desde a sua concepção até a sua morte natural.

 

Vocês, caros leitores, vocês homens públicos, que já viveram como pessoas humanas na frase embrionária, cantem sempre com consciência e alegria aqueles versos do hino da Campanha de Fraternidade 2008: “Sê sensato: escolha a vida! Parte o pão, cura as feridas! Sê fraterno e viverás!

 

Texto de Dom Antonio Augusto Dias Duarte

Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Divulgação no jornal O Testemunho da Fé, órgão oficial da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro; ano XVII (VIII) – nº 529 – edição semanal nº 375 – de 30 de março a 5 de abril de 2008, p. 8.