Revista geo-paisagem ( on line )

 

Ano  3, nº 5,

 

Janeiro/Junho de 2004

 

ISSN Nº 1677-650 X

 

Revista indexada ao Latindex

 

 

 

O XVIII Congresso Internacional da União Geográfica Internacional – UGI ( Rio de Janeiro, 1956 ).

 

Helio de Araujo Evangelista

( www.feth.ggf.br )

Resumo :

No atual artigo tratamos de um episódio pouco lembrado na geografia brasileira que foi o XVIII Congresso Internacional de Geografia promovido pela União Geográfica Internacional no Rio de Janeiro em 1956. Este congresso foi útil para a carreira de vários geógrafos e professores universitários que se destacaram ao longo da segunda metade do século XX.

 

Palavras-chaves

Brasil, Congresso, Geografia

 

Abstract :

 

Our goal is to argue one aspect very important to brazilian geography but few remenbered. It was the XVIII International Congress of Geography promoted by International Geographic Union at Rio de Janeiro in 1956. The Congress was useful for many geographers and teachers wich became important along the second part of sec. XX.

 

 

Key-words:

 

Brazil, Congress, Geography

 

 

Apresentação

 

            No esforço de resgatar grandes episódios que marcaram a geografia brasileira; e na esperança de que este esforço venha a ser aproveitado por maiores e mais profundos estudos, destaco neste texto o primeiro encontro, e até o momento único, que a União Geográfica Internacional promoveu no Brasil. Existiram outros, como o de 1982, mas tinham uma grau de abrangência mais limitado, não implicavam, por exemplo, a realização, tal como se deu em 1956, da assembléia geral da entidade!

 

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No comitê executivo da UGI, havia o professor Hilgard O’Reilly Sternberg que teve grande importância para a geografia brasileira em meados do século XX, ele foi vice-presidente  na gestão 1952-1956, e foi primeiro vice-presidente na gestão de 1956-1960, enquanto representante do Brasil.

 

Na ocasião da IX Assembléia Geral da UGI , em 1956,  havia 42 países membros regulares ( entre os quais o Brasil ), e seis países como membros associados, todos admitidos na IX Assembléia . Como preparação do congresso, houve uma primeira circular  que atingia 8000 cópias e foi dirigido para diversos países. O  congresso registrou 1220 inscrições ; sendo 59 países inscritos, dos quais 53 estavam inscritos para trabalhos .

O encontro foi realizado na Escola Naval do Rio de Janeiro, na pequena ilha de Villegaignon ( na Baía da Guanabara ) entre os dias 9 a 18 de agosto de 1956; para tanto as férias escolares  dos alunos foram estendidas , A Marinha, além da Escola Naval, disponibilizou alojamento gratuito para 200 membros do congresso, cobrando por isto e a alimentação por um preço módico para quem desejasse .Para quem quisesse havia ainda um  serviço de transporte gratuito entre a Escola Naval e o centro da cidade para evitar o isolamento. Foi instalado, ainda,  na escola, um serviço regular de correio, radiograma internacional, agência de câmbio, agência de viagem, venda de jornais (revistas, livros ), e souvenir do congresso em benefício de obras de caridade.

 

Tinha um escritório central que atendia de 8:30 horas às 18:30 horas. A sub-comissão de publicidade, por exemplo, favorecia o contato com a imprensa brasileira e internacional ( tendo contato com jornalistas previamente credenciados ) .

 

Os recursos financeiros foram destinados para que os membros do congresso melhor conhecessem o Brasil ( contaram com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e Centro Cultural Brasil – Israel ). Isto permitiu que estrangeiros melhor interagissem com outros centros universitários brasileiros e outros organismos especializados . Neste sentido destacou-se a iniciativa do “Centro de Pesquisas de Geografia do Brasil” da Universidade do Brasil que graças ao apoio da Fundação Rockefeller e com a colaboração da CAPES ( Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior ) e do CNPq ( Centro Nacional de Apoio a Pesquisa ) organizou um curso intensivo de seis semanas promovido por  7 professores estrangeiros para quarenta professores universitários brasileiros.

 

Características do congresso[1]

 

O programa – um resumo

 

 

Quarta-feira – 8 de agosto

 

13 h. 30 Apresentação do Comitê Executivo da UGI ao Diretor da Escola Naval.

14.00 – 17.30 Inscrições dos congressistas brasieliros e apresentação de cartas de credenciamento de instituições brasileiras. Sala da Secretaria.

 

Quinta-feira – 9 de agosto

 

8.00-9.00 Reunião de co-presidentes, de secretários de seção, presidentes de comissão de seção  e intérpretes. Sala UGI.

 

8.00 – 12.00 Reunião entre os chefes de delegação e os representantes das instituições para analisar as cartas de credenciamento. Sala da Secretaria.

 

9.00 Reunião do Comitê Executivo. Sala UGI .

 

10.00 Visita ao Presidente da República.

 

11.30 Visita ao Ministro de Relações Exteriores.

 

14.00 Reunião do Comitê Executivo da UGI. Sala  UGI .

 

16.00 Visita ao Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro

 

17.00 Recepção oficial no Palácio do Itamaraty.

 

21.00 Seção inaugural. Teatro Municipal. [2]

 

Sexta – feira – 10 de agosto

 

8.00 – 10.00 Reunião dos chefes de delegação. Sala UGI.

 

10.30 Inauguração da Exposição Geográfica e Cartográfica – Seção Internacional. . Salão de Exposição do Ministério de Educação e Cultura.

 

11.30 Visita à Exposição Geográfica e Cartográfica – Seção brasileira. Club da Aeronáutica .

 

14.00 Visita à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, ao Ministério da Educação, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ao Conselho Nacional de Geografia, à Faculdade Nacional de Filosofia, à Diretoria do Serviço Geográfico do Ministério da Guerra e à Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha.

 

16.00     Assembléia Geral da UGI. Auditório do Ministério da Educação e Cultura.

 

21.00   Conferência do engenheiro Plínio Cantanhede sobre “Problemas de energia no Brasil”. Auditório do Ministério da Educação e Cultura.

.

 

 

Sábado – 11 de agosto

 

9.00 – 12.00    Reunião das seções e das comissões.

 

12.00     Almoço e festa folclórica oferecidos pelo Prefeito do Distrito Federal no Yacht

 Club do Rio de Janeiro.

 

15.00 – 18.00  Passeio de ônibus pela cidade do Rio de Janeiro.

 

 

Domingo – 12 de agosto

 

8.00 – 17.00 Excursão a Petrópolis e Teresópolis ou pela Baia da Guanabara ( indo à Ilha de Paquetá ).

.

Segunda-feira  – 13 de agosto

 

9.00 – 12. 00 Reunião de seções

 

14.00 – 17.30 Reunião de seções

 

21.00   Conferência do professor Sylvio Fróes Abreu sobre o tema “Recursos minerais e industrialização no Brasil”. Auditório do Ministério da Educação e Cultura.

 

Terça-feira  – 14 de agosto

 

9.00 – 12.00 Colóquio “O problema das savanas e dos campos nas regiões tropiciais”. Auditório do Ministério da Educação e Cultura.

 

14.00 – 17.00  Reunião das seções e comissões.

 

Noite livre. Seção de cinema. Teatro da Escola Naval.

 

Quarta-feira – 15 de agosto

 

9.00 – 12.00 Reunião de seções e comissões

 

14.00 – 17.00  Reunião de seções e comissões

 

21:30 Auditório do Ministério de Educação e Cultura. Conferência do Prof. Alice Piffer Cannabrava sobre o Povoamento do Brasil, seus aspectos geográficos.

 

 

Quinta-feira – 16 de agosto

 

8:00 – Reunião do Comitê Executivo da UGI

9:00 – 12:00 – Reunião de seções e comissões

13.00 – 16.00  Passeio de ônibus pela cidade do Rio de Janeiro e áreas vizinhas.

 

16.00   Visita à Universidade do Brasil

 

17.00    Coquetel oferecido pelo Sr. Jurandyr Pires Ferreira, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ) na Sociedade Hípica Brasileira.

 

21.00   Seção de cinema. Teatro da Escola Naval.

 

 

 

Sexta-feira  – 17 de agosto

 

9.00 – 12.00  Reunião de seções e comissões

 

14.00 – 17.00 Colóquio sobre “A contribuição da geografia para a planificação regional dos países tropicais”. Auditório do Ministério da Educação e Cultura.

 

Sàbado – 18 de agosto

 

9.00 – 12.00   Reunião de seções e de comissões

 

14.00 – 16.00  Reunião de seções e de comissões

 

17.00   Assembléia geral da UGI . Teatro da Escola Naval.

 

20.30 Te Deum solene promovido pela sua eminência o Cardeal Arce-bispo do Rio de Janeiro, Sr. Dom Jaime de Barros Câmara na Catedral do Rio de Janeiro.

 

Sessão solene de encerramento no Teatro Municipal presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Marinha Almirante Renato Guillobel, representando o Presidente da República.

 

 

Domingo – 19 de agosto

 

14.00 Reunião do Comitê Executivo para o período 1956 – 1960. Sala UGI.

 

Comentários sobre o programa

 

Vários aspectos chamam a nossa atenção na viabilização do encontro. O primeiro aspecto diz respeito a decisiva atuação do governo federal no episódio, particularmente das forças armadas.

Os congressistas, por sua vez, majoritariamente estrangeiros, se ocuparam em estabelecer vários contatos no encontro que envolviam a presidência da República, o Ministério de Estado das Relações Exteriores, a Câmara dos deputados, o Senado Federal, o Ministério de Educação e Cultura, o Ministério da Marinha, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ( o Conselho Nacional de Geografia ) a Faculdade Nacional de Filosofia, a Diretoria do Serviço Geográfico, o Ministério da Guerra, a Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha e a prefeitura do Distrito Federal.

            O Congresso também atingiu a cidade. A Exposição Geográfica e Cartográfica inaugurada pelo senhor embaixador José Carlos de Macedo Soares, Ministro de Estado das Relações Exteriores, e realizada no salão de exposições do Ministério de Educação e Cultura foi voltada para exposição de material estrangeiro (contando com a iniciativa de 20 países). A exposição com material nacional foi exposto no Club da Aeronáutica, contando com 6 instituições governamentais e privadas com respectivas cartas, fotos e  mapas.

            Em termos de outras atividades, os congressistas usaram o Teatro Municipal, a Sociedade Hípica do Rio de Janeiro, o Yacht Club do Rio de Janeiro , o Palácio do Itamarati, e curtas visitas por Petrópolis, Teresópolis, Baía da Guanabara,  e entorno da cidade do Rio de Janeiro.

            Este verdadeiro acontecimento que deve ter tido fortes influências naqueles geógrafos brasileiros que estavam começando a carreira, tais como: Bertha Koiffman Becker, Milton Santos, Manuel Correia de Andrade, Aziz Nacib Ab’Saber, Maria do Carmo Correa Galvão, Nilo Bernardes, Lysia Bernardes, Maria Therezinha Segadas Vianna, entre outros.

 

As seções[3]

 

 

 

Seção I – cartografia e fotogeografia, com 26 trabalhos, nenhum brasileiro

 

Seção II – geomorfologia , com 69 trabalhos, cerca de oito brasileiros, a saber,  Aziz Nacib Ab’Saber, Fernando Flávio Marques de Almeida, Manuel Correia de Andrade, Carlos de Castro Botelho, Alceo Magnanini, Celeste Rodrigues Maio, Mario J. Magnani e Gilberto Osório. Cabe mencionar a presença do professor Hilgard O’Reilly Sternberg que teve decisiva importância na década de 50 na geografia da UFRJ .

 

Seção III – climatologia , com 20 trabalhos, dois brasileiros, Speridião Faissol e Celeste Rodrigo Maio.

 

Seção IV – hidrografia , com 4 trabalho, uma brasileira, Ruth Mattos Almeida Simões .

 

Seção V – biogeografia , com 10 trabalhos, nenhum brasileiro

 

Seção VI  - geografia humana , com 18 trabalhos, nenhum brasileiro. Cabe destacar na seção dois trabalhos do Pierre Deffontaine ( fundador da Associações de Geógrafos Brasileiros ).

 

Seção VII – geografia da população e do povoamento, com 52 trabalhos, sendo 6 brasileiros . Destes, temos os professores Milton Santos ( com dois trabalhos ), Aroldo de Azevedo, F. de Paula Cidade, Maria Rita da Silva de la Roque Guimarães, Carlos Augusto de F. Monteiro, Nice Lecocq Muller e um trabalho coletivo da seção regional do Paraná da Associação de Geógrafos Brasileiros.

 

Seção VIII – geografia médica , com 19 trabalhos, com 9 brasileiros. Todos não conhecidos como geógrafos , são eles: Mario B. Aragão ( com 2 trabalhos ) ; Emmanuel Dias ( com 2 trabalhos )  , Fernando Machado Bustamante ( com 2 trabalhos ); Clarimundo Chapadeiro, Herminio de Brito Conde. F. Rocha Lagoa, Wantuyl C. Cunha; Olimpio Neto, Henrique P. Veloso ( com 2 trabalhos ) , Pedro Fontana Júnior, José Venâncio de Moura. Mais da metade dos trabalhos ( 11 ao todo ) foram realizados por brasileiros.  [4]

 

Seção IX – geografia agrária , com 28 trabalhos, com uma brasileira. Ilka Bruck Lacerda.

 

Seção X – geografia da indústria, do comércio e do transporte, com 28 trabalhos, sendo três brasileiros. São eles Oswaldo Benjamin de Azevedo, Catharina Vergolino Dias e  Pedro Pinchas Geiger.

 

Seção XI – geografia histórica e política, com 20 trabalhos, sem um brasileiro.

 

Seção XII – metodologia de ensino da geografia e bibliografia, com 24 trabalhos, sem nenhum brasileiro. Destaque para o Francis Ruellan que teve grande importância para os geógrafos brasileiros na época.

 

Seção XIII – geografia regional, com 10 trabalhos, um trabalho com brasileiro ( Julio Planck Bittencourt ).

 

Ao todos foram 260 pessoas envolvidas diretamente em apresentação de trabalhos , dos quais aproximadamente 10% eram de brasileiros. [5]

 

 

 

 

As excursões [6]

 

 

 

No intuito de oferecer aos congressistas um melhor conhecimento da geografia física e humana das diferentes regiões do país, foram organizadas nove excursões das quais quatro foram realizadas antes do congresso e cinco após o mesmo, de modo a permetir a um mesmo participante a ocasião, por duas vezes, de entrar em contato direto com a terra brasileira.

Entre os percursos percorridos, as excursões se ativeram à Amazônia, o Centro-Oeste e o Sul do país ; na parte oriental, o Nordeste, o estado da Bahia e mais particularmente o sudeste do Brasil. Nesta última região quatro percursos diferentes tomaram os geógrafos, a saber : de Belo Horizonte até o Vale do Rio Doce, o litoral do Rio de Janeiro, o vale do Paraíba e a região de São Paulo ( que incluiu o oeste do mesmo e o norte do Paraná no intuito de acompanhar a trajetória do café ).

As facilidades obtidas, seja pelas autoridades federais, estaduais, municipais ou de organismos autônomos, seja empresas particulares solicitadas a colaborar na organização das excursões, permitiram à Secretaria Executiva estabelecer reduções nas taxas das mesmas excursões que puderam ser oferecidas aos congressistas por uma preço sensivelmente inferior aos anunciados na Primeira Circular. Para seis das excursões efetuadas, as reduções alcançaram 60% dos valores estabelecidos anteriormente, e para as outras as reduções chegaram de 35 a 50 %. Os preços compreenderam o transporte, o alojamento, as refeições ( bebidas incluidas ), o transporte de bagagem para os hotéis, assim como serviço de transporte para cada parada. Além disso, foi inserido um seguro temporário para acidentes pessoais.

 

 

Relação das excursões,  respectivos preços e membros participantes por país de origem

 

 

Excursão nº 1 – Planalto centro-oeste e pantanal do Mato Grosso.

 

21 julho – 8 agosto

 

Preço : US$ 161,00

 

Direção de Fernando Flávio Marques de Almeida e Miguel Alves de Lima com o apoio de Lúcia de Oliveira.

 

Membros que participaram 

Filandia ( 1 ), Suécia ( 1 ), Israel ( 1 ), Brasil ( 3 ), Reino-Unido ( 2 ), França ( 2 ), Alemanha ( 1 ),   União Soviética ( 5 ).

 

Cabe considerar a forte presença da União Soviética nas excursões de áreas de fronteiras, a saber: Mato Grosso e a Amazônia.

 

 

Excursão nº 2 – Região metalúrgica de Minas Gerais e vale do Rio Doce.

 

23 julho – 7 agosto

Preço  US$ 119,00

 

Direção de Ney Strauch com o apoio de Alfredo José Porto Domingues e Maria Thereza Ribeiro da Costa.

 

Membros participantes 

Reino-Unido ( 3 ), França ( 2 ), Etats-Unis ( 6 ), Italie ( 1 ), Danemark ( 1 ), Canadá ( 1 ), Belgique ( 1 )  Suisse ( 1 )

 

 

 

Excursão nº 3 – A marcha do café e a frente de pioneiros

 

21 julho  – 6 agosto

Preço : US$ 126,00

 

Direção de Ary França com o apoio de Nice Lecocq Müller, Ruy Osorio de Freitas e Dora de Amarante Romariz.

 

Membros

Suécia ( 4 ), Reino-Unido ( 1 ), Estados Unidos ( 4 ), Nova Zelandia ( 1 ), Dinamarca ( 1 ), Canadá ( 2 ), Porto Rico ( 1 ), Japão  ( 1 ), Suiça ( 1 )

 

 

Excursão nº 4 – Vale do Paraiba, Serra da Mantiqueira e região de São Paulo

 

28 julho – 7 agosto

Prix US$ 84,00

 

Direção de Aziz Nacib Ab’Saber e de Maria Therezinha de Segadas Soares com o apoio de Luiz Guimarães de Azevedo.

 

Membros

Reino-Unido ( 2 ), Estados Unidos 3 ), Dinamarca ( 1 ), Canadá ( 2 ), Japão ( 2 ), Brasil ( 2 ), Alemanha ( 1 ), Marrocos ( 1 ), Noruega ( 1 ), Países Baixo ( 1 ).

 

 

 

Excursão nº 5 – Plano litoral e região açucareira do estado do Rio de Janeiro.

 

21 – 28  agosto

Prix US$ 63,00

 

Direção de Lysia Maria Cavalcanti Bernardes com o apoio de Ruy Osorio de Freitas e Luiz Guimarães de Azevedo.

 

Membros

 

Suiça ( 1 ), Japão ( 2 ), França ( 2 ), Estados Unidos ( 1 ), Nova Zelandia ( 1 ), Brasil ( 1 ), Suécia ( 1 ), Iraque ( 1 ), França ( 1 ), Países Baixos ( 1 ) , Dinamarca ( 1 ), Noruega ( 1 ), Reino Unido ( 1 ).

 

 

Excursão nº 6– Bahia

 

20 agosto  – 3 setembro

 

Preço  US$ 112,00

 

Direção  de Alfredo Pôrto Domingues e de Elza Coelho de Souza Keller, com o apoio de Lilia Camargo Veirano.

 

Membros

 

Suiça ( 1 ), França ( 3 ), Estados Unidos ( 2 ), França ( 1 ), Países Baixos ( 1 ) , Reino Unido ( 5 ), Canadá ( 1 ), Polônia ( 1 ), Alemanha ( 1 ), Italia ( 3 ), URSS ( 3 ). Espanha ( 1 ), Romenia ( 1 ), Belgica  ( 1 ).

 

 

 

Excursão  nº 7 – Nordeste

 

21 agosto – 5 setembro

 

Preço US$ 136,50

 

Direção  de Mário Lacerda de Melo com o apoio de Aziz Nacib Ab’Saber e Dárdaro de Andrade Lima.           

 

Membros

 

Israel ( 1 ), Polônia ( 2 ), Reino Unido  ( 1 ), URSS ( 2 ), França ( 4 ), Itália ( 1 ), Argentina ( 1 ), Brasil ( 1 ), Alemanha ( 1 ), Marrocos  ( 1 ), Finlandia ( 1 ).

 

 

Excursão nº 8 – Amazônia 

 

24 agosto  – 13 setembro

 

Preço  US$ 175,00

 

Direção  de Lúcio de Castro Soares com apoio de Roberto Flávio Cristófaro Galvão e Tibor Jablonsky    

 

Membros

 

Finlândia ( 1 ), México ( 1 ), Argentina ( 1 ), URSS ( 4 ), França ( 5 ), Belgica ( 1 ), Alemanha ( 3 ), Cuba ( 3 ), Japão ( 2 ), Polônia ( 1 ), Estado Unidos ( 3 ).

 

 

 

Excursão nº 9 – Planalto Meridional

 

24 agosto – 10 setembro 

Preço  US$ 133,00

 

Direção de Orlando Valverde e Dora de Amarante Romariz .

 

Membros

 

Suécia  ( 1 ), Reino Unido  ( 2 ), Alemanha ( 4 ), Polonia  ( 1 ), Nova Zelandia ( 1 ), Uruguai ( 1 ), França ( 2 ).

 

Chama a atenção a presença dos alemães na excursão para o sul do país; provavelmente para conhecer as colônias alemãs na área.

 

Mas ao longo das excursões percebe-se a forte presença dos americanos que tinham à época a maior delegação.

 

Repercussões

 

Na imprensa

 

            Ao recorrermos às edições antigas do jornal O Globo, período de 9 a 18 de agosto de 1956, temos uma noção da repercussão do encontro a nível da opinião pública da época.

            Em manchete de primeira página deste jornal, dia 9/8/956 consta : “Conquista o Brasil sua maioridade com relação à ciência geográfica”. Na página seguinte, pág. 2, consta que o Congresso teria um custo superior a 9 milhões de cruzeiros. Tendo sido o único a ser realizado no Hemisfério Sul, até aquela data, a edição do jornal apresenta as razões do encontro ter ocorrido no Brasil.

 

 

Em 1949 durante o XVI Congresso, em Lisboa, o Brasil apresentou sua candidatura para realizar a de 1952. Voltavam a realizar os grandes conclaves internacionais depois de um interregno de onze anos. Nosso pedido chocava-se com a pretensão dos americanos que desejavam para sede de 1952 a cidade de Washington, como parte dos festejos comemorativos do Centenário da Associação Geográfica Americana. O Brasil retirou sua candidatura em homenagem a efeméride. Em 1952 contou com o apoio maciço das Américas e de vários outros países, que lhe deram maior número de votos que ao outro concorrente, a Inglaterra. ( sic )

 

 

            Ao longo dos dias do congresso o jornal apresentava uma cobertura do que ocorria. Por exemplo, no dia 10/8 há uma fotografia em primeira página do geógrafo alemão Carl Troll, que tinha estado no Brasil em 1926. Na edição de 13/8 temos a notícia de uma grande exposição cartográfica no Instituto de Educação, com mapas eram “bonitos como quadros”. No dia seguinte, pág. 11, temos uma entrevista com o geógrafo português Orlando Ribeiro, no Brasil pela terceira vez, que elabora uma comparação entre as cidades do Brasil com a de Portugal e ele interpreta que Ouro Preto ( MG ) é a cidade mais portuguesa do mundo! Na matéria do dia 18/8, pág. 07, ao término do congresso, os jornalistas colhem depoimentos pelos quais “... Em breve o Brasil ocuparia lugar de destaque no Mundo.”

 

Nas instituições universitárias

 

 

            Um local que sofreu forte influxo com a realização do congresso foi a antiga Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

No endereço virtual  www.geografia.ufrj.br/graduacao.htm sobre o curso de graduação na UFRJ, visto em 13/10/2003, é observado

 

Dentro da UFRJ, a formação profissional do geógrafo está a cargo do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências, sucessor do mesmo Departamento da antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Sua tradição de ensino e pesquisa remonta á década de 1930, quando da criação da Universidade do Distrito Federal. Em sua fase de implantação contou o Departamento com professores de grande renome como Pierre Deffontaines, Carlos Delgado de Carvalho e Francis Ruellan aos quais coube formar os primeiros geógrafos, professores e pesquisadores, que os viriam a suceder nos quadros da Universidade e que constituíam o núcleo original do corpo de geógrafos do então Conselho Nacional de Geografia .

 

Desde a década de 1940, o Departamento começou a dar ênfase à capacitação de seus alunos como pesquisadores dedicando especial atenção às pesquisas de campo, essenciais na formação de geógrafos profissional. Em colaboração com o antigo CNG, professores e alunos do Departamento de Geografia participaram de grande número de pesquisas, que se estenderam a várias regiões do país e cujos resultados se acham publicados nos órgãos de divulgação do IBGE. Tais pesquisas foram da maior importância na formação de numerosos geógrafos que hoje ocupam lugar destacado cenário geográfico nacional.

 

Por outro lado, no âmbito da própria Universidade, criaram-se condições para o desenvolvimento da pesquisa geográfica. Já em 1952, por iniciativa da cátedra de Geografia do Brasil, o Conselho Universitário criou o Centro de Pesquisa de Geografia do Brasil. Através dos trabalhos que vem desenvolvendo, com a participação de alunos e outros geógrafos, além de professores, este Centro vem dando então valiosa contribuição à qualificação dos geógrafos profissionais da UFRJ.

( .... )

Em seu esforço pelo aprimoramento profissional do geógrafo, o Departamento de Geografia e Centro de Pesquisa de Geografia do Brasil têm atuado também através de cursos numerosos, de especialização ou aperfeiçoamento, alguns outros de extensão universitária. Em 1956, graças a presença no Brasil de grandes nomes da Geografia Mundial, aqui reunidos por ocasião do XVIII Congresso Internacional de Geografia, foi realizado, por iniciativa do CPGB, um curso de Altos Estudos que congregou como alunos geógrafos de várias regiões do país. Nos últimos anos, através de vários cursos de Aperfeiçoamento e de Especialização no campo da Geografia Física, como no da Geografia Humana e Regional . O Departamento de Geografia tem podido oferecer a geógrafos e outros profissionais, uma oportunidade de reciclagem com relação a temas escolhidos.

 

 

Em www.geografia.ufrj.br/pos_graduação.htm , visto em 13/10/2003 , consta :

 

O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA foi criado em março de 1972 com a finalidade de aperfeiçoar a qualificação de geógrafos para o exercício de atividades docentes e de pesquisa nessa área de conhecimento científico. Concede o título de Mestre em Ciências: Geografia e, a partir de 1992, o de Doutor em Ciências: Geografia. O Departamento de Geografia, no âmbito do qual se desenvolveu o Programa, se originou na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, onde diversas iniciativas pioneiras, no sentido da formação de geógrafos pesquisadores, permitiram a fundação do Departamento. Dentre essas iniciativas, destacam-se os cursos de Aperfeiçoamento e Extensão ministrados por professores de renome internacional, como Lucien Febvre, Francis Ruellan, Gottfried Pfeiffer, Jean Demangeon, Jean Roche; a criação do Centro de Pesquisas de Geografia do Brasil – CPGB, em 1952, pelo Prof. Hilgard Sternberg, com o apoio da Fundação Rockfeller e do CNPq, num momento em que a pesquisa geográfica universitária era ainda incipiente; o Curso de Altos Estudos, após o Congresso Internacional da União Geográfica Internacional ( Rio de Janeiro, 1956 ) do qual participaram  Carl Troll, Irwin Raisz, Orlando Ribeiro, Pierre Deffontaines, André Cailleux, Pierre Birot e Pierre Monbeig, e que reuniu, como alunos, um número expressivo de professores universitários de Geografia de todo o país.

( ... )

 

 

            Um outro local positivamente afetado pelo congresso foi a Bahia.  Pela endereço virtual: www.fpa.org.br/reflexao/milton_biografia.htm , visto em 21/11/03, é assinalado  um seminário Milton Santos e o Brasil, ocorrido entre 17 a 19 de julho de 2002 no estado brasileiro da Bahia ( Salvador ). No endereço virtual é apresentado um relato da Prof. Maria Auxiliadora da Silva sobre o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais  criado pelo Prof. Milton Santos com apoio do prof. Michel Rochefort, núcleo de que se derivou o atual Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFBA Pelo mesmo endereço constam detalhes sobre as repercussões do congresso e que ora reproduzimos.

 

“A segunda metade dos anos 50 representa um marco para a ciência geográfica na Bahia. Em 1956, instala-se, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de Geografia, ocasião em que acontece o encontro do jovem professor Milton Santos com o Prof. Jean Tricart, da Universidade de Strasbourg, França. Após o Congresso, o Prof. Milton Santos, Bacharel em Direito, Editorialista do jornal mais importante da cidade, A Tarde e professor da Faculdade Católica de Filosofia da Bhia, segue para Strasbourg, de onde volta, em 1958, com seu doutorado em Geografia, juntamente com jovens colegas como Tereza Cardoso da Silva, Ana Dias da Silva Carvalho e Nilda Guerra de Macedo ( morta, prematuramente, aos 35 anos ), também professora secundária, antes da viagem à França, de colégios como o Severino Vieira e o Colégio Central.

 

Na volta da França, o Prof. Milton Santos conheceu, numa reunião na Reitoria, o Reitor Edgard Santos, que o encarregou de organizar um grupo de pesquisa, em cujo nome, entretanto, não deveria figurar a palavra “geografia”, já que a direção não seria dos professores do Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade da Bahia. Seguiram-se novos encontros com o Prof. Jean Tricart, encontros estes que aconteciam no Hotel da Bahia – hoje Tropical Hotel, único hotel moderno da cidade naquela época, e na sala do escritório de advocacia do Prof. Milton Santos no Edifício Antônio Ferreira, na rua Chile, centro.

 

Assim, com o apoio do Reitor Edgard Santos, da Cooperação Técnica do Ministério das Relações Exteriores da França, representada pelo Prof. Jean Tricart, da Universidade de Strasbourg e sob a liderança do espírito renovador do Prof. Milton Santos, criou-se o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia em 1º de janeiro de 1959.

....

 

 

 

Nas carreiras profissionais – depoimentos [7]

 

 

 

Aziz Nacib Ab’Saber [8]

 

            GEOSUL – O senhor tinha idéia de onde iria chegar com seus estudos?

Aziz – Em 1956, estabeleci um roteiro de estudo de geomorfologia. Propus-me inicialmente a entender a compartimentalização e as formas que assumem os compartimentos, aquilo que se vê. Como geógrafo, eu tinha que ter olhos. E isso me foi ensinado, desde a primeira hora, pelos mestres franceses. Portanto, procurei desenvolver essa percepção, pois sem isso é impossível ser geógrafo. A partir de 1956 – por influência dos grandes geomorfologistas e geólogos do quaternário que vieram ao Brasil participar do XVIII Congresso Internacional de Geografia, realizado no Rio de Janeiro -, comecei a me interessar pela estrutura superficial da paisagem, ou seja, passei a interpretá-la como documento do passado recente, da história física e ecológica da Terra. Foi aí que me aproximei da ecologia e da geoecologia. Passei a me interessar sobretudo pela fisiologia da paisagem, por aquilo que depende do clima. Queria ter uma noção dinâmica da fisiologia da paisagem, que integrasse todos os seus componentes: águas caindo, rochas se decompondo, solos se formando, enfim uma cadeia sutil de eventos. Fixei um tripé de estudos: compartimentalização e formas; estrutura artificial da paisagem; e dinâmica ou fisiologia da paisagem.

GEOSUL – Como o senhor chegou à teoria dos refúgios?

Aziz – Essa história começou quanto entrei em contato com os grandes geógrafos alemães, belgas, franceses, poloneses e russos que vieram ao Congresso Internacional de Geografia realizado aqui no Brasil em 1956. De repente chegou ao Brasil um avião cheio de geógrafos, autores dos livros que eu lia. Foi uma festa ! Eles não entendiam por que até durante o jantar eu procurava estar por perto deles. Aquela reunião me marcou. Até então eu não tinha tido oportunidade de ir à Europa e ver de perto o trabalho de geomorfologistas com formação muito superior à minha. Em 1957, quando Jean Tricart, um grande geógrafo de campo, voltou ao Brasil, eu o assessorei numa excursão a Salto, Jundiaí, Sorocaba e Campinas. Um dia paramos perto de um barranco onde havia uma ocorrência de stones lines ( linhas de pedra ) sobre terrenos mais antigos e, logo abaixo, terrenos cristalinos. Até então as linhas de pedra eram um enigma para nós brasileiros. Até então as linhas de pedra eram um enigma para nós brasileiros. Eu sabia da existência de bibliografia sobre aquelas linhas e sabia também que o que se dizia sobre elas não estava correto. Mas ninguém sabia explicá-las de outra forma com exatidão . O Tricart me disse então que aquelas linhas de pedra – que haviam dado tanto trabalho aos geógrafos, cada um interpretando-as a seu modo – na realidade deviam ser um remanescente de um chão pedregoso do passado. Poderia ser algo parecido – embora não se pudesse afirmar com certeza – com certas formações de pedras típicas do Nordeste brasileiro. Aquela área em que estávamos deveria, no passado, ter sido um chão pedregoso com caatingas ou cerrados, segundo a intepretação arguta de Tricart. Não precisou que ele dissesse mais nada: fiquei encantado com o que me dizia e me dediquei daí para frente a estudar as linhas de pedra. [9]( pp. 169-170 )

 

 

Manuel Correia de Andrade [10]

 

GEOSUL – E sobre o Congresso Internacional de Geografia do Rio de Janeiro em 1956, qual a sua impressão ?

 

Prof. Manuel – Para mim foi também muito marcante: em primeiro lugar porque lá apresentei o meu primeiro trabalho em um Congresso Internacional – A “ria” do Formoso na Costa Sul de Pernambuco – e, segundo porque me pus em contato com as maiores figuras da geografia mundial, cujos livros eu manuseava e utilizava nos meus cursos e, ainda em terceiro, porque ao se concluir o Congresso foi realizado na então Universidade do Brasil um Curso de Altos Estudos Geográficos de que fui aluno. Este curso foi planejado e dirigido pelo Prof. Hilgard Stenberg, tendo como assistente a Professora Maria do Carmo Galvão e foi ministrado por sete mestres estrangeiros para quarenta estudantes brasileiros, todos professores universitários. Este curso foi ministrado pelos professores Orlando Ribeiro, da Universidade de Lisboa que deu um curso sobre a “Geografia da Expansão Portuguesa no Mundo”; por Karl Troll, da Universidade de Bonn que deu curso sobre “Biogeografia da América Latina”; por E. Rainz, que deu curso sobre Cartografia e pelos professores franceses, todos da Universidade de Paris, Pierre Monbeig com um curso de “Geografia Agrária do Mundo Tropical”, Pierre Deffontaines com “Geografia da Pecuária na América do Sul”, Pierre Birot com “Geomorfologia do Cristalino” e A . Cailleux com “Sedimentologia”. Eu era assistente da cadeira de Geografia Física, na então Universidade de Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco, trabalhando com o professor Gilberto Osório de Andrade. Neste curso em que tive como colegas professores dos mais diversos estados do país – Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul – pude aprofundar e reciclar os meus conhecimentos e fazer grandes amizades pessoais. Amizades dentre os professores como Orlando Ribeiro, Pierre Deffontaine e Pierre Monbeig que em 1964/65 seria o meu orientador de estudos, quando tive que sair do Brasil e fiz pós-graduação na França, no Instituto de Altos  Estudos da América Latina, graças ao apoio que recebi do professor e amigo. E esta amizade foi mantida até a morte do mestre...Entre os colegas me aproximei muito de Bonifácio Fortes, de Sergipe, de Milton Santos, Dalmo Pontual, Nilda Guerra de Macedo ( já falecida ) e de Anna Carvalho, da Bahia, da Guiomar Goulart de Azevedo e Alisson Guimarães ( já falecido ), de Minas Gerais, de Araújo Filho e Blás Berlanda Martinez, de São Paulo e de Rafael Copstein e Alba Gomes, do Rio Grande do Sul. Admito que o Curso de Altos Estudos Geográficos, quer pela sua importância científica, quer pelo contacto que abriu entre professores brasileiros que se iniciavam e dos mesmos com os mestres estrangeiros contribuiu enormemente para o desenvolvimento da Geografia brasileira.

Convém salientar ainda que ao mesmo tempo em que se realizava este curso na Faculdade Nacional de Filosofia, se realizava também em uma faculdade particular localizada na Tijuca, um curso de Geomorfologia com o Prof.  Jean Tricart, da Universidade de Strasbourg. Este curso tinha a maior importância porque Tricart divulgava aos seus estudos sobre Regiões Morfoclimáticas que teriam uma grande influência nos estudos geomorfológicos, nos anos sessenta, no Brasil. Suas aulas foram depois publicadas em livros dando uma maior divulgação às suas idéias. Convém salientar que as aulas de Tricart eram ministradas a noite e muitos dos meus colegas e eu próprio, ao concluirmos os trabalhos no Curso de Altos Estudos íamos para a Tijuca receber os ensinamentos do mestre de Strasbourg. A influência de Tricart na evolução do pensamento geográfico no Brasil foi muito grande quer através da divulgação de suas obras, quer através da orientação de brasileiros, sobretudo da Bahia, que se doutoraram em Strasbourg. ( pp. 132-134 )

 

Milton Santos [11]

 

            ( .... ) Mas é em 56, então, que se realiza no Rio de Janeiro um Congresso Internacional de Geografia. A Geografia era uma disciplina muito prestigiosa, assim como era o CNG – Conselho Nacional de Geografia, que, aliás, sempre foi dirigido por um geógrafo. Enquanto isso, o IBGE era dirigido por um militar ou um político, ou militar-político, como é o caso do pai da geógrafa Regina Rochefort, o almirante Espíndola, que foi um dos seus presidentes. Foi naquele congresso que se abriram as portas, para nós geógrafos brasileiros, para o mundo, com a vinda de grandes nomes que vieram prestigiar esse evento e que foi bastante divulgado na imprensa. É interessante notar que a abertura deste congresso contou com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek.

Esse congresso termina mas não acaba, porque após sua realização ficou sendo ministrado um grande curso chamado de “Altos Estudos Geográficos”, organizado pelo Departamento de Geografia da Faculdade Nacional de Filosofia, coordenado por Hilgard Sternberg, onde vão ensinar nomes como Deffontaines, Pierre Mombeig, André Cailleux, Karl Troll da Alemanha, deu aulas em espanhol. Eram seis grandes nomes que deram aulas em francês, Pierre Birot, etc. ( pp. 186-187 )

 

 

Victor Antônio Peluso Júnior  : [12]

 

6 ) E a sua participação na União Geográfica Internacional ?

R – A questão da União Geográfica Internacional apareceu em uma das Assembléias Gerais do Conselho Nacional de Geografia dos anos cinqüenta. Tratava-se de determinar a quem caberia a representação, no Brasil, da União Geográfica Internacional, organismo pertencente à UNESCO, responsável pela realização dos Congressos Internacionais de Geografia, e que realizaria, no Rio de Janeiro, o XVIII Congresso. Diversos geógrafos do Conselho Nacional de Geografia pretendiam que a esse órgão deveria ser entregue tal representação, mas outros, tanto do CNG como a ele apoiando-se em regulamento da própria UGI, que recomendava representação não governamental, queriam que fosse criada Comissão constituída de geógrafos das diferentes regiões brasileiras. Defendia esta última posição o Professor Veríssimo da Costa Pereira, um dos grandes geógrafos brasileiros. A Assembléia Geral do CNG competia dar a decisão. Manifestei-me, desde o início, favorável ao ponto de vista do Professor Veríssimo, que acabou prevalecendo. Foi eleita, então, a Comissão Nacional do Brasil da União Geográfica Internacional que elegeu Presidente o Professor Aroldo Azevedo e como Secretário Executivo o Professor Hilgard O’Reilly Sternberg e um geógrafo de cada região brasileira. Tendo o Professor Aroldo de Azevedo renunciado à Presidência, em 1956, pouco antes da realização do Congresso Internacional de Geografia, fui eleito para o cargo, nele permanecendo até 1966. Foi nessa qualidade que participei dos Congressos Internacionais de Geografia do Rio de Janeiro e de Stocolmo ( pp. 15-16 ).

 

 

Conclusão

 

 

A presença marcante dos membros do IBGE na viabilização do congresso sinalizam claramente a importância que este órgão tinha para a geografia brasileira à época. A geografia à época estava inserida num projeto de estado. Era uma verdadeira empreitada de estado, uma empreitada voltada para articulação de elos entre a burocracia nacional com a internacional. Não é surpresa, por exemplo, após a realização deste congresso, vários foram os brasileiros que tiveram oportunidade para estudarem no exterior ! Desenhava-se ali o novo processo que tomaria corpo na segunda metade do século XX, a saber, a ascensão da geografia nas universidades brasileiras.

 

 

 

 


Fonte de consulta

 

 

Consultando os resumos e palestras do congresso, foram consultados:

 

1 )  Resumes des communications

Union géographique internationale

Comitê national du Brésil

Rio de Janeiro, 1956.

 

2 ) Tome quatrième , travaux des sections IX, X, XI, XII, et XIII.. Comptes rendus du XVIII Congrès international de géographie , Rio de Janeiro, 1956. Comitê National du Brésil, Rio de Janeiro, 1966.

 

3 ) Travaux des sections I, II et III  Comptes rendus du XVIII Congrès international de géographie , Rio de Janeiro, 1956. Comitê National du Brésil, Rio de Janeiro, 1960.

 

4 ) Comptes rendus du XVIII Congrés International de géographie

Rio de Janeiro 1956

 

Depoimentos consultados:

 

1 ) Pedro Pichas Geiger em nota autobiográfica publicada na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 17, ano ix, 1º semestre de 1994; pp. 124- 150.

2 ) Pasquale Petrone , depoimento, publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 15, ano viii, 1º semestre de 1993; pp. 103- 137.

3 ) Victor Antônio Peluso Júnior , Roberto Lobato Correa, Armen Mamigonian, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Ignácio de Mourão Rangel , Manuel Correia de Andrade, Milton Santos, João José Bigarella, Orlando Valverde , depoimentos reproduzidos na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 12/13, ano vi, 2º semestre de 1991.

4 ) Aziz Nacib Ab’Saber , depoimento publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 14, ano vii, 2º semestre de 1992; pp. 161- 182.

 

Edições de jornais :

 

O Globo ( mês de agosto de 1956 )  na Biblioteca Nacional ( RJ )

 

Consulta na internet :

 

Em www.fpa.org.br/reflexao/milton_biografia.htm , em 21/11/03 verifiquei a notícia da  realização de um seminário Milton Santos e o Brasil, ocorrido entre 17 a 19 de julho de 2002, no estado brasileiro da Bahia ( Salvador ). O endereço é da Fundação Perseu Abramo e pelo mesmo foi possível verificar um histórico da geografia neste estado.

 

 

Em www.geografia.ufrj.br/graduacao.htm , em 13/10/2003 verifiquei informações sobre o curso de graduação na UFRJ. Há um histórico da geografia  nesta instituição .

 

Em www.geografia.ufrj.br/pos_graduação.htm em 13/10/2003 , verifiquei informações sobre o curso de graduação na UFRJ. Há um histórico da geografia  nesta instituição .

 

 

NOTAS

 



[1] Baseado em Comptes Rendus du XVIII Congrés International de Géographie. Rio de Janeiro, 1956. Tome Premier. Actes du Congrés.

 

[2] A noite, no Teatro Municipal, ocorreu a recepção oficial pelo Presidente da República, Sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, tendo discursos do professor Jurandyr Pires Ferreira ( presidente da comissão organizadora do congresso ); discurso do professor L. Dudley Stamp ( presidente da União Geográfica Internacional ) e discurso final do Presidente da República.

 

[3] Apoiado em  Resumes des communications .Union géographique internationale. Comitê national du Brésil. Rio de Janeiro, 1956. Na classificação que segue, procuramos detectar a importância dos brasileiros na apresentação dos brasileiros em cada seção.

  

[4] É provável que a vigorosa participação brasileira decorra do Instituto de Manguinhos, da atual Fundação Oswaldo Cruz, referência mundial na área de doenças tropicais .

 

[5] Foram editados vários tomos , porém, só encontramos :  tome quatrième , travaux des sections IX, X, XI, XII, et XIII.. Comptes rendus du XVIII Congrès international de géographie , Rio de Janeiro, 1956. Comitê National du Brésil, Rio de Janeiro, 1966. Assim como:  tome second , travaux des sections I, II et III . Comptes rendus du XVIII Congrès international de géographie , Rio de Janeiro, 1956. Comitê National du Brésil, Rio de Janeiro, 1960.

 

[6] O que se segue foi retirado do documento : Comptes rendus du XVIII Congrés International de géographie Rio de Janeiro 1956

 

[7] Seção apoiada em  trechos biográficos de geógrafos e expostos por ordem alfabética.

 

[8] Depoimento publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 14, ano vii, 2º semestre de 1992; pp. 161- 182.

 

[9] Em 1995, durante meu curso de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, assisti a uma palestra do professor Aziz que relembrava este momento, na sala de aula ele chegou a afirmar: “ há certos momentos que uma frase, uma colocação, mudam uma vida, e certamente aquele dia, no trabalho de campo, foi fundamental o que viria a estudar anos depois.” ( reproduzo aqui não a frase, pois não estava com gravador, mas certamente a idéia que quis transmitir ). 

 

[10] Depoimento publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 12/13, ano vi, 2º semestre de 1991.

 

[11] Depoimento publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 12/13, ano vi, 2º semestre de 1991.

 

[12] Depoimento publicado na Revista Geosul, Revista do Depto. De Geociências – CFH, nº 12/13, ano vi, 2º semestre de 1991.

 

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