Revista geo-paisagem (on line)

 

Ano  6, nº 11, 2007

Janeiro/Junho de 2007

ISSN Nº 1677-650 X

 

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Cultura e Geografia.

 

Helio de Araujo Evangelista [1]

 

Resumo: O presente trabalho versa sobre cultura e geografia. Nós verificamos que a Geografia Crítica apresentou um grande crescimento nos últimos vinte anos, porém ela não o manteve até os nossos dias. Assim, o objetivo deste texto é o de entender porque isto ocorreu.

 

Abstract: This work is about Culture and  Geography. We observe, after a great development of the Critical Geography in the last twenty years, that it didn’t stand this development until nowdays . So, the goal of this papper is to understand why it happened.

 

Palavras-chaves: Geografia Crítica, Brasil, tendências

Work-keys: Critical Geography, Brazil, last tendencies.

 

 

A emergência da cultura!

 

 

Ao acompanhar a produção da geografia cultural brasileira é forte a presença de jovens tratando o assunto. Mas, o que os estimula a seguir tal vereda ? Seria uma nova moda ?

Acredito que não! A rigor, eles percebem algo que os mais velhos não vêem ou evitam de ver, para não se sentirem incomodados. E os jovens, como tem menos coisa a perder, são mais aptos a buscar novas trilhas. Refiro-me, particularmente, à situação de que o poder vem sendo reconstituído. Paulatinamente, as relações de domínio lançam mão menos do poder letal de uma arma em favor do poder sedutor de uma propaganda. A cultura, hoje, é fruto de um merchandising. Vende-se tudo, até mesmo, sendo o caso, uma tela com um único pingo ... acaso Deschamp no início do século não trouxe um mictório para uma exposição de arte ?

Assim, a arte se vale pelo inusitado, inesperado, algo que divirta, entretenha; a cultura, hoje, não é fonte de esclarecimento mas sim de divertimento.

Assim, a arte virou o novo “bobo” da corte ? Não, este caráter aparentemente tão tresloucado encerra um processo de disseminação do nada, ou seja, simplesmente as coisas não são. As coisas são fadadas a não ter referência alguma. A arte, a cultural em geral, é a arma mais sofisticada, no nosso tempo, para inculcar novos padrões de comportamento. Antes o processo era inculcado pelo patriotismo, por exemplo; hoje, não, o processo está mais disseminado e o que se visa com isto é disseminar a situação de ausência de medida. Todo e qualquer valor, particularmente o religioso, é combatido. Combate-se a religião como sendo esta sectária, a partir de um procedimento sectário.

O cerceamento, o governo, se faz na base do amortecimento ou excitamento dos sentidos; a intenção é tornar as pessoas cada vez mais indiferentes, apáticas, controláveis, os diferentes métodos de engenharia social que apareceram nos últimos 150 anos denotam esta situação, por exemplo, experiências de Pavlov, a neurolinguistica, artifícios alcançados no campo da propaganda etc.

No nosso tempo, de um lado, temos um processo coisificador que torna tudo dinheiro; por outro lado, temos a constituição de um novo código comunicativo, pautado em símbolos visuais, que têm a propriedade de tornar as pessoas nômades.

            Se a questão social estava na ordem do dia nos séculos XIX e XX, ensejando a formação de novas disciplinas como a sociologia e a antropologia; atualmente, século XXI, a cultura assume um caráter estratégico. A compreensão da mesma estimula a gestação de novas formas de controle. Assim, há uma efervescência quanto ao tema, que superficialmente testemunhamos mas que de forma mais profunda obedece a indagações sobre o governo das mentalidades.

 

Governança mundial [2]

 

A tese aqui defendida é a de que a constituição da governança mundial, em substituição às quadrículas de poder representadas pelos estados nacionais, está a exigir uma profunda mudança cultural com novos parâmetros e valores sendo que uma base de apoio é o chamado estado de direito.

 

Não há economia/comércio mundial se não ocorrer, correlatamente, governo mundial ( cabendo dar regência, legitimidade às deliberações do campo financeiro, econômico/comercial ) ; por sua vez, não há  governo mundial se não tiver uma cultura mundial, as idéias substanciam as relações de força, só a força em si não ajuda a realizar o pleno exercício do poder, este há de ser reconhecido e quanto mais aceito se torna eficiente, porém, o que consubstancia a aceitação é a cultura.

Na conformação da governança mundial, há uma verdadeira disputa pelas consciências, elemento vital para se alcançar a conformação de um estado de direito ( que pouco diferenciaria de um estado policial ( geneticamente manipulado ) ) . Este aspecto abre um claro confronto com a religião pois esta se aninha justamente nas consciências das pessoas .

Não foram poucas as experiências históricas pelas quais se tem claro que o controle de uma população não se realiza estritamente pela força. Milhões de pessoas podem vir a ser assassinadas, mas suas idéias brotarão em outro momento com mais força. [3]

 

Há de ocorrer um eficiente controle dos corações porque só assim ocorrerá a subordinação do individual á comunidade, do cidadão ao Estado, a segurança do grupo acima da segurança individual.

 

Neste sentido, não há espaço para as religiões, ou seja, estas, com sua tendência de ter por referência algo que transcende a autoridade humana tende a representar um certo sinal contraditório ao acordado pelas autoridades.

 

            Vivemos uma época demarcada pela profusão de eventos, acontecimentos, circunstâncias que apresentam uma grande velocidade; e tal dinâmica está permeada por uma avalanche de ideários relativos a modos de vida, sensos comuns, costumes, etc.

 

            Porém, tal processo hodierno não deixa de gestar um gradativo processo político em direção à Governança Mundial. Tal Governança já teria atingido uma rede regular de relações comerciais e econômicas entre os mais importantes países e empresas do globo terrestre; faltando, no entanto, uma dimensão política-institucional para este governo.

 

            Esta Governança há de ter uma feição institucional, uma sede, uma representação legítima, para, enfim, acelerar o processo da globalização, que ora assistimos. No entanto, este objetivo não é tão fácil de ser alcançado, pois o próprio inclui uma transformação cultural global a ponto de se ter uma legitimidade política para tal estabelecimento.

 

Assim, pela primeira vez na história humana há condições de se estabelecer um governo envolvendo todo o planeta, e a transformação cultural, enquanto referência para se estabelecer as metas desta macro sociedade,  desempenha um papel nevrálgico.  

 

            Tal transformação cultural, por sua vez, passa por uma superação de costumes, valores e ideologias de modo que as bases de uma legislação comum possam ser compartilhadas por diferentes povos.

 

            Na consecução desta renovação axiológica, por sua vez, encontra-se o papel da mídia.

 

·        Mídia

 

A mídia procura ocupar-se com a esfera da intimidade da pessoa. Ela está a oferecer verdadeiros ícones, estrelas que passam a ser divinizadas, cercadas por uma verdadeira áurea de reverência, mas de permeio vão semeando aspectos, notícias, valores, que afrontam profundamente os preceitos arraigados! Há muito a mídia afastou-se do talento artístico; o fundamental a um candidato à estrela é a ambição. Ambição em aparecer, acontecer, e estar disposto aos mais disparatados papéis ou posições que possam ser solicitados. Não cabe mais talentos com valores próprios, o fundamental é a maleabilidade, às vezes, do próprio caráter !

 

Não importa o senso ético ou moral, o importante  é a inserção da imagem segundo um desígnio que pode gerar um produto exótico, exclusivo, ou despudorado, o que seja ... As pessoas não se destacam pelo que pensam ou pelos gestos heróicos ... a mídia não se pauta pela meritocracia ... Não raro, coisas perdidas no tempo e lugar adquirem uma notabilidade que foge às expectativas.[4]

 

O essencial está no desígnio. Desígnio este que, às vezes, se pauta nas pessoas que pensam, que cometem gestos heróicos ... mas a escolha deste fato e não de outro está orientado por cálculos que há muito foge de nossa alçada.

 

Desígnio aqui significa algo variável, atrelado à estratégia de merchandising, mas também com caráter político ( ora sendo um, ora sendo outro, ora as duas coisas ( uma mais importante que a outra, vice-versa )). Assim, o desígnio está calcado na circunstância, mas orientado pelo domínio, domínio da mente ( e do tempo do raciocínio ), do coração ( e do tempo da emoção ( = sentimento, arrependimento etc. )) . Enfim, sem deixar lugar para coisa alguma ... 

 

O desígnio tem na mídia o esforço de hipnotizar ( enfeitiçar ) deixar todos absortos, estanques de si mesmos, aptos para consumir e obedecer . Nunca, nós últimos cem anos, a rebeldia foi tão padronizada ( domesticada, direcionada ), pois ocorreu paralelo a fortes e pertubadores padrões de consumo !

 

E não poucas pessoas embarcam na crença de sermos senhores de nós mesmos, ávidos por felicidades sensitivas, cada qual sendo a estrela do seu próprio sistema solar ... e dá-lhe consumo, novas viagens, novas situações, novos filmes, novos hábitos, e haja conta corrente, cartão de crédito, cheque especial, etc.  [5]

 

            O recurso de combinar imagem e som com fatos do cotidiano tem o efeito de tornar a TV o canal mais privilegiado de comunicação, exigindo o menor esforço possível por parte das pessoas. Logo, os agrupamentos humanos, mesmo com grande interação com o entorno, dado o efeito da mídia, têm sua motivações discursivas, nas conversas habituais, sugeridas pelo meio de comunicação, é como se o encontro humano estivesse conduzido por parâmetros vindos por imagens, notícias, etc. promovidos pela televisão.

 

            Esta linguagem pavimentaria não só visões homogêneas de vida, mas, também, a receptividade às normas comuns, legais ou não, de controle da sociedade. Logo, o arrebanhamento que configure a finalização das particularidades, regionalidades, e aspectos locais, etc. podem ser vistos como condição sine qua non para se viabilizar novas formas, abrangentes, de controle social.

 

            No entanto, é interessante notar que esta expansão do controle social é bem recebida, pois aparenta ter a forma de liberdade de expressão; é visto como um processo que visa melhorar a vida dos cidadãos, melhorar o seu grau de trocas, contatos, informações, etc.

 

            Mas, o que ocorre, de fato, é que por trás disto temos o controle da informação, a rigidez das trocas, e o enrijecimento dos contatos. Pois todo o aparato se dá numa forma tão tecnificada, e cara, que só a alguns é possível o usufruto e o assenhoramento dos equipamentos que permitem um direto acesso a formação da opinião pública.

 

            Nossa cultura é marcada pela imagem, não é marcada pelo raciocínio ou lógica expressa por um parágrafo, mas por algo que marque, se destaca pela excepcionalidade em termos de imagem.

 

Para analisar este enfoque sobre os meios de comunicação, tendo em vista a transformação cultural, entendemos ser necessário ressaltar o desvendamento do corpo humano sobre o qual é enfatizado o seu sentido estético e erótico.

 

Cabe aqui indagar, se este processo de formatação do Governo Mundial não teria na questão sexual um elemento de ponta na veiculação das mensagens da mídia que corroborariam na homogeneização dos valores culturais. A sensualidade ganharia campo como um elemento a forjar novos padrões culturais, uma maior licensiodade frente aos ditames morais e religiosos.

 

            A universalidade inerente ao sexo propicia um tipo de mensagem que atinge a todos os vinculados pelos meios de comunicação. Além disso, os próprios têm uma vasta capilaridade na nossa psique, psicologia, moral, costume e ética. Deste modo, a roupagem sexual nos programas, mensagens, anúncios, viabiliza uma abrangência da mensagem, assim como, uma rapidez de resposta.          

 

A disseminação dos conteúdos sexuais tem o poder de configurar, gradativamente, por imagens e clichês, certos signos referentes a relações de poder, relações de auto-identificação e de afetividade junto à sociedade.

 

            O conteúdo erótico passa a ser tão generalizado que as formas de sua veiculação adquirem novos aspectos. Se, por exemplo, Toulausse Lautrec representava em seus quadros a vida boêmia da velha Paris do séc. XIX, quando o Mouling Rouge era uma das grandes vitrines da sensualidade, chegando, não raro, a ser vilipendiado e combatido; hoje, casas deste gênero perdem expressão enquanto principais capitaneadores do processo de exposição do corpo.

 

            Parece-nos útil, por fim, enfatizamos que correlato a esta cirurgia do campo relacional sexual, gesta um processo político, de ampla escala, que visa o monitoramento das relações sociais sem que isto signifique uma perda significativa na mobilidade e produtividade humana.

 

            Ao invés das pessoas estarem mais próximas, estão mais separadas. Pois os diversos contatos, olhares, conversas, não são suficientes para torná-las seguras quanto ao seu entorno; pelo contrário, dado a avalanche de aspectos, acontecimentos, fatos novos, etc. a pessoa cultiva como perspectiva a apatia, como aspecto a acompanhar o seu horizonte de vida, esta atua até mesmo como uma forma de proteção da própria pessoa. Logo, são contatos sem encontros.[6]

            O processo de governança mundial exige um duplo encaminhamento, a saber: a ) de um lado, tornar a pessoa isolada, sem a possibilidade de auto-identificação, a menos que isto ocorra “à luz da mídia” ; b ) de outro lado, proporcionar uma grande rapidez de contatos entre pessoas ( = através dos diferentes aparelhos de comunicação ) a ponto de gerar uma certa “anestesia social”, ou seja, inculcar a dimensão de agrupamentos ( uma aldeia global ), sem uma identificação mútua, sem condições de um auto-reconhecimento.

 

            Cabe notar, no entanto, que este novo estilo de controle social adquire vulto recentemente. Se, no passado, sempre ocorreram tentativas expressas de se controlar a opinião para viabilizar relações de poder, este controle, no entanto, não era de todo suficiente, havia de vir correlato à força. Atualmente, o ato de forjar a opinião pública, via mídia, é mais impactante, e menos necessário de expedientes físicos ( policial/militar ) no controle.

 

·        A religião

 

Nos dias atuais há uma surda, e às vezes barulhenta, luta contra as religiões. Uma luta que não se genelariza num processo de extinção física dos crentes, mas sim se dissemina dilapidando as bases morais e psicológicas sobre as quais a experiência religiosa se apóia.

 

Em princípio, consideramos que a religião não tem um papel por demais confortável pois ela tem características que incomodam, qual seja, ela está pautada pela transcendência, ou seja, a fonte de poder da religião encontra-se fora dela mesma, ou seja, ela está apoiada numa revelação que o Tora, Alcorão e a Bíblia exprimem aos seus fiéis!

 

            Este aspecto é de crucial importância pois a tendência da abrangência do poder global é o de afetar os vários espaços da vida humana a afim de dar pleno sucesso ao controle da população.

 

            E a religião trás uma preocupação no sentido de não se submeter, necessariamente, aos ditames das formulações jurídicas acordadas assim como às instituições que passam a ter forma ...

 

Na construção das novas relações de poder em escala planetária, consoante ao processo econômico que atinge a mesma escala, não há espaço para a religião, de qualquer tipo. Tal asserção ocorre da necessidade, desta governança política de tudo submeter a um determinado estado de direito em que o parâmetro escolhido esteja apoiado na melhor forma de se garantir o controle das pessoas, dos fluxos, seus sentimentos, anseios, demanda etc. Neste sentido, a religião atua como agente anômalo pois calca as relações humanas na  revelação, algo portanto, externo ( e porque não dizer estranho ) à ordem vigente. Este é um projeto, não se afirma aqui que ele logrará sucesso !

 

O ser religioso é aquele ciente de se saber Filho de Deus. Noção que o acompanha e esclarece o rumo de sua vida. Em contra-posição, quem, enquanto religioso, se dispõe a matar, com exceção de cometer um ato de auto-defesa, nega o próprio caráter de sua filiação. Nos atuais casos de conflitos promovidos por “religião” percebe-se que o percentual destas pessoas no computo de toda população de fé é ínfimo. Mas é surpreendente como se divulga e enfatiza o vínculo religioso ao conflito; particularmente a que envolve a população islâmica. Chega-se a gerar o sentimento que para o povo islâmico é natural e até próprio que se reze  a Alá com armas ao lado. Quando, a rigor, o muçulmano como qualquer pessoa humana, tem lá suas expectativas, ato e iniciativa, e se é hostil, o é como cada um de nós é capaz de sê-lo.

 

O fenômeno religioso na vida de uma pessoa não tem a propriedade de nulificar as características pessoais, algumas até das piores, mas sim de dar a esta um olhar, uma perspectiva no viver em função de uma revelação, o de ser bem quisto por Deus. E esta percepção de pertenciamento a vai levando a depurar espiritualmente o seu ato de ser..

 

            Cabe destacar que esta luta contra as religiões não tem em si um caráter último, ou seja, não se baseia na pura destruição ... a destruição das religiões é meio, não fim ... o que se busca é uma nova moral, novos parametros étnicos .. novas formas de concepção de pessoa humana .... de seu destino ( e respectivo futuro ). E o grande moto deste novo código é a lei ... Rompendo-se, de vez, toda e qualquer resquícios de uma norma que não tenha sido estabelecido previamente pelo consumo social. Consumo social aqui não no sentido de que a população participaria autonomamente, mas sim que seriam instados a ter por próprio o que lhe foi inoculado mediaticamente ...

 

            Porém, este processo trás em si algo preocupante e simplesmente mostruoso, qual seja, a construção de uma grande jaula do direito, no qual a vida é normatizada, regulada, acompanhada, não havendo mais segredos, com os sensores estando atentos para detectar todo e qualquer desvio... É o estabelecimento puro e simples da socieade propriamente, teleguiado , ... viva a manada !

 

A emergência da geografia cultural

 

Pessoalmente não valorizava a geografia cultural. Parecia-me uma espécie de eflúvio. Um requinte na geografia brasileira, afinal, diante de tanta miséria, alguém que se dispusesse a tratar da geografia na obra de Guimarães Rosa ... 

 

Cometia um engano. O primeiro sinal deste engano foi quando num desses passeios na Internet resolvi buscar o termo – geografia cultural no endereço www.google.com.br , em seguida, comparei com o encontrado a partir da busca de um outro termo, a saber, geografia critica; esta última apresentava muito menos informações.

 

Por esta busca tive conhecimento do Simpósio Espaço e Cultura organizado pelos professores Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Correa e realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em outubro de 2006. Assisti a algumas mesas e percebi o excepcional trabalho que estes dois professores vêm realizando em favor da reflexão sobre espaço e cultura, assim como constatei a existência de uma geração, nova, de geógrafos afeita ao tema.

 

No entanto, o argumento definitivo em favor da idéia que havia algo muito sério acontecendo na geografia brasileira e que se expandia de forma sinuosa sem fazer alarde decorreu da verificação de uma elevada produção da geografia cultural no Programa de Pós – graduação em geografia da Universidade Federal Fluminense, justamente um programa que conta com professores identificados com a geografia crítica.

 

Assim, iniciei a elaboração desta parte  sobre geografia cultural no Brasil. 

 

Mas o que é geografia cultural ? E se indagasse, o que é wnpxiwk pppp ?

 

Reparem que as palavras encerram sentidos próprios, se assim não fosse seria impossível a comunicação humana.

 

Logo, quando trato aqui de geografia cultural trato da geografia que norteia a sua produção a partir da ação da cultura . O que é cultura  ? São nossas crenças, valores, religiões, músicas, etc. etc. , enfim, aspectos de nossa vida que estão muito mais relacionados com a nossa constante busca em nos situarmos no universo, do tipo, por que a vida, por que da morte ... Tenho para mim que se nós não morrêssemos, ou seja, não viéssemos a conhecer a morte muito da produção cultural perderia sentido.

 

Enfim, quando falo em cultura não trato em plantio de  alface ou obtenção de água num poço artesiano.

 

Parece meio estranho este exercício que estou a apresentar mas me parece necessário tendo em vista diferentes e-mails que recebi ao tratar com diferentes professores (as ) sobre geografia cultural, perguntavam, por exemplo, se o trabalho é sobre geografia cultural ou geografia humanista.

 

Em suma, trato o tema de forma bastante simples. Não vou aqui entrar em filigranas procurando distinções quando, na verdade, as diferentes linhas estão mais próximas que distantes.

 

Quanto à segunda pergunta, o que é wnpxiwk pppp ? Sinceramente não sei, este segundo conjunto de letras, ao contrário do primeiro ( geografia cultural ) não nos desperta sentido algum pois é um conjunto de letras que nunca veio a ser utilizado para favorecer a comunicação entre as pessoas.

 

 

Contexto geral [7]

 

            Pela análise das três correntes na geografia ( quantitativa, crítica e humanista ), percebe-se a existência de dois grandes campos de conflito na geografia crítica, uma de característica teórica, e outra de abrangência política.

 

            No primeiro campo, encontramos a divergência entre os que creditam em Karl Marx uma importância teórica para a Geografia, assim pensa Massimo Quaini ( por exemplo ), e há os que entendem o contrário, como Yves Lacoste.

 

            No campo político, há o debate quanto ao papel da Geografia na sociedade burguesa, uns propugnam por uma conotação revolucionária e outros a favor de um cunho mais acadêmico, tal embate tomou expressão na própria divergência quanto ao rótulo a ser utilizado pela Geografia, viria a ser uma Geografia Revolucionária ou Geografia Reformista.

 

            Numa comparação entre a Geografia Crítica e a Geografia Humanista, verifica-se nas duas correntes a importância da contribuição anglo-saxônica, embora, como o próprio Horacio Capel reconhece, no caso da Geografia Crítica ocorreu uma maior contribuição européia, havendo quem como Josefina Gómez et alli, defenda a existência de duas linhas de Geografia Crítica, a americana e a francesa.

 

            Mais recentemente, a partir da constatação das insuficiências analíticas do marxismo, e da necessidade em enfatizar a dimensão espacial no pensamento marxista, Paulo César da Costa Gomes constata que a Geografia Radical vem se afastando do projeto de construir pelo marxismo uma ciência total; o marxismo passou a ser visto como uma inspiração, enfim como um pensamento pelo qual se tem uma perspectiva que auxilia na compreensão da realidade.

 

            O que é interessante notar neste novo período da Geografia Crítica, vem a ser a sua proximidade com o humanismo, entre as duas linhas de pensamento há um imediato ponto de proximidade dada a crítica à ciência positivista, a partir deste aspecto, e pela respectiva evolução do pensamento geográfico Paulo César observa que o “...materialismo histórico redescobriu a reflexividade de toda ação social e, por conseguinte, a importância de uma análise que leve em conta o valor e o antropocentrismo da vida social. Ao mesmo tempo, o humanismo se desembaraçou do idealismo e do subjetivismo, que caracterizaram as primeiras análises, e recolocou a importância da existência material no centro das interpretações.” ( 1996, pp. 301-302 )

 

            Na análise da formação da Geografia Radical verifica-se uma deliberada luta contra a Geografia Quantitativa, não só pelo seu conteúdo técnico, mas precipuamente pelos pressupostos de base positivista. Neste aspecto, também, há um ponto de proximidade com a Geografia Humanista.

 

            A Geografia Radical alega que os elaborados métodos quantitativista, em função de sua base de apoio, estariam apoiados em enfoques que não mais contribuiriam para a compreensão da sociedade, além de ter uma função mitificadora sobre a realidade.

 

            Deste modo, para validar a posição de um discurso sem contradição, você retira do seu objeto de análise aspectos que não possam ser imediatamente apreendidos pela teoria adotada, desta forma o resultado advindo deste procedimento é uma imagem higienicamente tratada da realidade, higienicamente vista aqui no ponto de vista de que a matemática não apreende o caos da vida, os sentimentos, as contradições sociais.

 

            Tanto João Mello, quanto Werther Holzer, em suas respectivas análises sobre a Geografia Humanista são acordes em destacar que ela ocorreu no bojo de uma profunda insatisfação com o positivismo. Este separou o observador daquilo que observa, não destacando a própria riqueza que se dá na interação destas partes. A experiência, a experiência vivida faculta ao observador determinadas informações que pelo método positivista não são destacados. [8]

            A decepção com o esforço “métrico” do neopositivismo em analisar a realidade a partir de enfoques mecanicistas, tendo como pressuposto que a mesma é conduzida por mecanismos bem programados, geraram a demanda por um enfoque onde o sentimento, o medo, a paixão, a loucura, enfim, tudo aquilo que a princípio não obedecesse a uma ordem racional pudesse ser também campo de reflexão.

 

            Há um aspecto que aproxima a fenomenologia, principal base de apoio da Geografia Humanista, e o marxismo, a saber: ao contrário do neopositivismo, estas não separam o sujeito do objeto; porém, há profundas diferenças entre estas escolas, numa percepção marxista, por exemplo, a consciência é determinada pela vida, enquanto para a fenomenologia a consciência é o próprio indivíduo que por uma interpretação pessoal reflete sobre a sociedade. Enquanto no marxismo há o reforço na consideração das estruturas sociais enquanto meio para compreender a sociedade, a visão fenomenológica destaca o papel da individualidade para compreender esta mesma sociedade. Enquanto, pela visão marxista, é criticado na Geografia Humanista a ênfase na cultura e nas ações individuais; o geógrafo humanista critica a Geografia Crítica por destacar o aspecto econômico e racionalista da sociedade de modo a diminuir o papel que a individualidade tem para a organização de uma dada sociedade.

 

Contexto nacional

 

 

Ao tentarmos definir os grupos que atuam na geografia cultural brasileira percebemos uma notória dificuldade.

 

Quando analisamos, por exemplo, a geografia crítica ( analisadas em www.feth.ggf.br/GeografiaCrítica.htm e www.feth.ggf.br/Geocrítica.htm ) notamos claramente que a sua urgência foi ditada por um momento histórico, no caso brasileiro, muito marcado pela reabertura política. Além disso, esta corrente tinha uma corrente de pensamento, o marxismo, que articulava o pensar e o agir.

 

Quando procuramos ver ( sic ) a geografia cultural no Brasil, no entanto, notamos um quadro bem diferente, em primeiro lugar, ela é difusa, porém viva. Particularmente são os mais jovens que estão dispostos a discutir religião, hip-hop e lendas do sertão.

 

Outro aspecto que chama a atenção é uma certa marginalidade que a mesma apresenta, ou seja, a Geografia cultural ainda não aconteceu enquanto um happening no Brasil. Ainda não se deu uma inflexão pela qual ela possa virar uma referência com envergadura nacional.[9]

 

O que temos são pessoas que juntas a outras formam núcleos mas estes ainda não estabeleceram uma agenda que percorra o país. Por exemplo, quando lemos o notável trabalho da Ferreira ( 2002 ) sobre a geografia agrária brasileira, fica nítido como um dado coletivo em diferentes partes do país estabeleceram uma estratégia de confluências de talentos voltados para o tema.

 

De certa forma, as pessoas envolvidas com temas correlatos à geografia cultural não atuam enquanto membros participantes de um única e mesma grande escola. Cada qual toca o seu instrumento. Não se tem, por exemplo, uma conflagração de uma mobilização que, por exemplo, vise influenciar os livros didáticos, tal como a geografia crítica fez.

 

Este apanhado nos leva a buscar explicações para tal quadro. Na minha interpretação a geografia cultural no Brasil carece de uma paternidade, ou seja, quando temos em conta a geografia crítica, desculpem-me a insistência, o processo de produção esteve e está intimamente ligado ao movimento que ocorria e ocorre nas ruas, nos partidos, nos acontecimentos. Havia, aliás, há um feedback entre a produção acadêmica e a dinâmica social. No caso da geografia cultural, ela está refém da universidade, da universidade pública brasileira, uma universidade que carece de um projeto; está inserida num país que literalmente não tem projeto a não ser o de manter eternamente o status quo. O que destaco aqui é o que se o elemento favorecedor da geografia crítica foi dado pela reabertura política no país; geografia cultural, por sua vez, não usufruiu nem de um momento, nem de uma instituição com envergadura nacional tal como ocorreu entre com a  geografia crítica em relação  à  Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB. 

 

A geografia cultural brasileira é a geografia da Internet. Não fosse isso a sua revolução passaria por baixo do solo de forma menos nítida. A geografia cultural brasileira embora não tenha conquistado os grandes salões da geografia brasileira, tipo, capitanear as primeiras mesas promovidas pela Associação de Geógrafos Brasileiros, ou, ter maior ascendência sobre os encontros promovidos pela Associação de Pós-Graduação em Geografia – ANPEGE, ela promove uma profusão de temas e, de certo modo, é a que explora melhor a internet, explora mais porque não encontra-se esgotada,cansada; pelo contrário, ainda tem muito caminho pela frente.

 

 

            Na universidade brasileira, por sua vez, destaco que o principal núcleo de geografia cultural encontra-se na Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ, conhecido pela sigla NEPEC. É o principal porque é o que apresenta a maior diversidade de suas ações, seja no lançamento de livros, seja na promoção de diferentes seminários. Houvesse no Brasil mais um núcleo semelhantes a este, muito provavelmente a geografia cultural teria uma outra característica no país.

 

            Destacaria ainda o encontrado na Universidade Federal do Paraná ( Núcleo de Estudos em Espaço e Representações ( NEER ) ).

 

            Fora estes surgem uma série de outros núcleos que parecem que têm também um caráter heróico, ou seja, pessoas afinadas com o tema procuram desenvolver o assunto com o apoio maior dos alunos do que propriamente de outros professores. Temos, assim,  iniciativas no Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Ceará , Santa Catarina, etc.

 

            Na bibliografia sobre a geografia cultural brasileira há uma notória falta de uma resenha semelhante ao realizado por Armando Correa da Silva ( 1984 ) em favor da geografia crítica. Convém que isto seja realizado por um geógrafo cultural.[10]

 

            Percebo que há uma notória falta de unidade em termos de configuração de um projeto de poder por parte dos geógrafos culturais, algo semelhante ao realizado pelos geógrafos críticos na Associação de Geógrafos Brasileiros e na produção de livros didáticos.

 

            Haveria apetite para tanto ? Convém ter ! Por que ? Porque simplesmente a geografia brasileira está desaparecendo!

 

            Hoje, já há um projeto de se retirar a disciplina geografia da grade dos primeiro e segundo graus do ensino sob a argumentação de que o seu programa exposto em sala de aula se assemelha muito às aulas de história e sociologia. Além disso, a posição profissional do geógrafo no corpo do CREA ( Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura ), por exemplo,  é bastante tímida, os pareceres técnicos de geógrafos são seriamente criticados por engenheiros, economistas, etc. E, sinceramente, não é saindo do CREA que a situação vai ser sanada, muito menos criando um Conselho próprio, a tirar pelo o que ocorre com a AGB que após mais de setenta anos nem sede própria tem, vivendo literalmente encostadas nas universidades, imaginem como ficaria o Conselho ... seria reconhecido ? Por qual empregador ?

 

            Há uma perda de ascendência se temos em conta o que já foi gerado pela geografia  na conformação do retrato deste país, via Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, via Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, e por último, via Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

            Além disso, a geografia, disciplina, vem perdendo o que outrora lhe foi tão marcante, a saber, uma notória preocupação com o quadro físico, e de forma alguma procurava ser considerada como uma ciência humana;[11]

 

Conclusão.

 

            Vivemos um estado de guerra. Os episódios dramáticos de 11 de setembro de 2001 representam uma inflexão no processo histórico. O estado de guerra atual é difuso, disperso, qualquer pessoa pode virar homem-bomba e se ver no direito de destruir o que bem entende. A questão da cultura torna-se algo pungente, a decifração dos seus caminhos, como surge o processo criador, por exemplo, por que a necessidade da cultura, outro exemplo, faz da geografia cultural um tema de última hora.

 

            Esta preocupação com a cultura pode vir a ter endereços para o bem ou para o mal, mal se a intenção é o de fomentar uma certa engenharia social de controle, bem, se seguir o inverso.

 

Mas, o que é fundamental, é não entender a cultura, por tabela a geografia cultural, como algo curioso, servindo para melhorar o teor de uma conversa, de forma alguma, ela encontra-se na berlinda.

 

 

FONTE DE CONSULTA

 

Bibliografia

 

ARAGÃO, Luciano Ximenes. A des-re-territorialização dos migrantes nordestinos na Comunidade de Rio das Pedras. Niterói: Programa de pós-graduação em geografia da Universidade Federal Fluminense, 2004.

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NOTAS


[1] Prof. Dr. do  Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense ( www.feth.ggf.br )

 

[2] O que se segue está baseado em  www.feth.ggf.br/Opinião1.htm e www.feth.ggf.br/Opinião2.htm .

 

[3] Cabe aqui menção de um fato aparentemente prosaico mas muito característico do que aqui pretende ser observado. Durante décadas, a ex-União Soviética homenageou seu grande líder revolucionário ao nomear a cidade com o nome de Leningrado ( 1924-1991 ), pois bem, bastou a diluição do sistema socialista para que a cidade retomasse seu antigo nome, São Petersburgo, fundada em 1703 por Pedro, o Grande, e tornada capital da Rússia em 1712. Ou seja, na história há camadas que aparentemente mostram-se “mortas e esquecidas” mas que ressurgem com toda a força em momentos posteriores.

 

[4] Por exemplo, graças a Hollywood e a um diretor de cinema, Steven Spilberg, os dinossauros viraram coqueluche internacional

 

[5] No entanto, a morte é um duro recado de que a vida não é para ser usufruída como sorvete, pois é fugaz, mas um convite para nos abeirarmos do mistério que significa nossa existência ! Neste sentido, a morte tem um caráter didático de nos exigir algo a mais do que possa oferecer a prateleira mais bem organizada de um shopping! Mas até mesmo este caráter  da morte encontra-se combatido. Cultiva-se uma falsa noção de perpetuidade, seja pela não celebração dos dias de finados ( antigamente vivido com tanto pesar ), seja pelos  cemitérios que perdem o aspecto de moradia ( desaparecem os  jazigos com verdadeiras características de lares ) em favor dos atuais campos de futebol, aquele gramado bonito no qual a morte é lembrada nas pequenas lápides onde constam os nomes e períodos de vida das pessoas. O cemitério assim despersonaliza a morte, a torna menos pungente. Mas, por último, há um recurso mais radical, para que a morte não deixe memória, a saber, a cremação.

 

Uma vez fui à cremação de um parente, que situação! Parece linha de fábrica. Relato o episódio. Em primeiro lugar, cremar custa caro, além de envolver uma não pequena burocracia, é necessário, por exemplo, registrar em cartório, o expresso desejo de ser cremado.  Bom, estando no local, este mais parecia recepção de aeroporto. Piso bonito, tudo bem limpo, música ao fundo, caso este serviço seja contratado. Subitamente soa um assovio, todos se dirigem a uma sala ao sala. Sentados, vêem o caixão chegar por uma esteira mecânica. Exatamente, meia hora depois, novamente um assovio, e o caixão volta de onde veio. No dia seguinte, uma pessoa designada pela família recebe uma caixinha com pó. Ah, quase esqueci, você pode escolher o tipo da caixinha no dia anterior à cremação.  Cabe aqui repetir a pergunta de Ronald Knox, a saber, não será um sinal de retorno à barbárie a rapidez com que hoje procuramos livrar-nos dos nossos mortos ?

 

Faço aqui outro relato, envolvendo um outro morto, também da família. Faleceu e foi enterrado, a cada mês era visitado, depois, no mínimo, uma vez ao ano. Cada visita era uma visão didática quando ao lado frágil da vida, mas, ao mesmo tempo, havia uma renovação no amor daquelas pessoas em relação ao ente querido. Enfim, uma situação, ao meu ver muito mais rica.

 

Anos atrás assisti a uma entrevista do filósofo italiano, Remo Bodei, ao jornalista Roberto D'Ávila para seu programa divulgado pela TVE. Ao falar de sexo e da morte, o filósofo observava que no passado o sexo era algo obsceno, ou seja, algo para ficar fora de cena, enquanto que a morte era reverenciada, ou seja, as pessoas ficavam de luto e tinham maior atenção com seus mortos. Hoje, ocorre o oposto, temos uma super-exposição do sexo e um verdadeiro pavor da morte.

 

[6] Dramaticamente, os encontros não ocorrendo, estes são substituídos por um cão ou gato, ou seja, qualquer animal doméstico. Vivemos numa época que os animais domésticos adquirem personalidade, viram pessoas.... Viu ele fala comigo ... Com ele não estou só...Enfim, nada contra animal doméstico, mas é o no mínimo curioso o número de lojas voltadas para animais, não raro, servem para cuidar daqueles que não deixam os seres humanos sozinhos.

 

[7] O que se segue decorre de um apanhado de diferentes trabalhos por mim elaborados durante o curso de doutoramento na UFRJ, 1995-1998, são eles, artigo publicado no Boletim do Grupo de Estudos Geopolíticos nº 2/ano 2, Departamento de Geografia, UFF, em março/97; do qual produzimos dois outros artigos, a saber: 1 ) “Qual o futuro da Geografia após a sua fase moderna? ”Publicado na Revista da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias ( RJ ), agosto de 1999, ano I, nº 1. 2 ) “Geografias moderna e pós-moderna” artigo publicado na Revista do Mestrado do curso de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, ano I, nº 1, jan/jun. de 1999, pp. 121-138.

 

[8] Segundo Yi-Fu Tuan a experiência é uma operação complexa que varia do sentimento primário até concepções complexamente elaboradas; através dela a pessoa conhece e constrói a realidade. “Experenciar é aprender; significa atuar sobre o dado e criar a partir deles. O dado não pode ser conhecido em sua essência. O que pode ser conhecido é uma realidade que é um construto da experiência, uma criação de sentimento e pensamento”. (Tuan, 1983, p. 10 )

 

[9] Por exemplo, no caso da geografia crítica, um apoio que teve notório papel em sua disseminação foi a Associação de Geógrafos Brasileiros.

 

[10] Os trabalhos de Rosendahl & Correa ( 2005 ) e Claval ( 1999 ) indicam o início de uma reflexão a partir da produção relacionada à geografia cultural brasileira.

 

[11] Sobre a ação destas duas últimas instituições cabe conhecer os seguintes textos: www.feth.ggf.br/Socgeorio.htm , www.feth.ggf.br/Congresso.htm , www.feth.ggf.br/Geografia.htm  e www.feth.ggf.br/FIBGE.htm

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