Morte ( 27/9/03 )

 

Helio de Araujo Evangelista ( www.feth.ggf.br )

 

Escrevo estas linhas após a notícia de um rapaz morto pela mãe, a pedido, pois encontrava-se tetraplégico.

 

O episódio ocorreu na França e foi divulgado no Jornal Nacional da TV O Globo em 26/9/03.

 

Pela notícia, o rapaz só movia um dedo, movimento suficiente para ajudar a contar uma história que gerou um livro com grande vendagem, justamente defendendo o direito de morrer.

 

É a morte na forma de espetáculo ! O culto da morte !

 

Aquele mesmo dedo poderia ter celebrado a vida, mesmo naquelas duras condições, tal como ocorre com tantas pessoas, particularmente os miseráveis ! Você tem notícia de algum miserável das ruas do Brasil que tenha cometido suicídio por sua situação ? Rico comete suicídio, miserável não !

 

Ao fim, ao cabo, nosso grande desafio está na morte. Um desafio que nos indaga sobre o sentido de nossas vidas; afinal, vivemos para quê ? E este objetivo é meritório tendo em conta o pouco tempo que dispomos ?

 

Morte, palavra pequena mas que tanto nos assusta. Nos dá arrepio ! Mas ela está ali, nos esperando !

 

E quando menos esperamos, crau ! Atinge a nossos conhecidos, parentes, amores, e num dado dia, a nós mesmos !

 

A altura da pessoa é dada pelo tipo de relação que desenvolvemos com a morte, particularmente com nossa morte !

 

Não podemos ter em relação a ela um trato como se a desconhecêssemos. Não, desta postura perdemos um grande efeito que ela nos proporciona, qual seja, não podemos perder tempo. O tempo é um grande tesouro.

 

Assim como, não podemos ter em relação a ela uma posição cínica, do tipo: ela existe e daí ? Enquanto não chega ... comamos e bebamos ... Isto acaba nos inoculando a idéia de que tanto faz, como tanto fez, isto ou aquilo ... é tudo igual!

 

Ora, somos únicos, irrepetíveis, o que somos e fazemos ninguém fará em nosso lugar. As demais pessoas e Deus ( para quem acredita, e para quem não acredita assim mesmo ELE continua esperando algo de nós ) estão a esperar de nós atitudes. Todos contamos com todos. Esta é a nossa diferença enquanto seres humanos; dependemos visceralmente de todos para podermos ser o que somos.

 

Não há uma ditadura biológica, tipo instinto, como ocorre nos formigueiros ou colméias nos quais as organizações são formadas sem tonalidades individuais. Tudo igual, sempre ! Com a espécie humana não é assim!

 

Não podemos temer a morte. Se tememos perdemos tempo e por maior tempo que tenhamos não podemos evitá-la .

 

A morte é nossa companheira, uma professora. Para pessoas gigantes, santas como São Francisco de Assis, ela é vista como irmã, ou, conforme São Josemaría Escrivá, aquela que facilita o caminho. 

 

Após finalizar este texto vim a saber em dezembro de 2003 que duas ex-alunas, em épocas diferentes e por motivos diferentes, cometeram suicídio ... Não faça isto !

 

Você que lê estas linhas, e portanto encontra-se vivo ( ou viva ), saiba que a verdadeira ciência do viver está na simplicidade! Há aspectos fantásticos na vida, e não custam coisa alguma,  a saber: o entardecer, um sorriso de uma criança ... Não havendo loucuras, ambições sem pé nem cabeça, o fluir do tempo exige uma posição de serenidade, sem deixar que as ondas do tempo, com fatos intempestivos, nos tirem algo que é tão claro, a saber: participamos de um mistério, o mistério da vida!

 

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